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Tecnologia e Inovação como Alavancas do Setor


Entrevista TSTS 216 11 de setembro de 2019 | Por: Portal TS

Odair Garcia Senra, iniciou seu mandato como presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil) em 2019 com foco no futuro do setor e, por mais que se pense na motivação diante dos desafios econômicos, à vista do que o executivo contou à Revista Tratamento de Superfície – e que você lerá a seguir – o intuito dele é, na verdade, o futuro a longo prazo, como deve ter em mente qualquer pessoa que pretenda, de fato, ser líder. Já disse o escritor e administrador Peter Drucker: “A melhor maneira de prever o futuro, é cria-lo”.  Assim, conheça as análises econômicas e suas tendências, o cenário atual da indústria do segmento, as transformações das relações empresariais, e muitos outros temas, sob a ótica de quem atua há quase 50 anos no setor da Construção Civil.

Quais foram as principais mudanças que vivenciou no setor, de maneira abrangente?

As principais mudanças têm sido aquelas relativas à crescente escassez de terrenos e aos aperfeiçoamentos no financiamento imobiliário. Passei pelo auge e pela crise do BNH, pela criação e aperfeiçoamentos do SFH e do SFI. Mais recentemente, as instituições financeiras adquiriram mais segurança para a concessão e securitização do crédito imobiliário, e o mercado de habitação popular ganhou grande impulso com o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’.

Em relação aos processos e à tecnologia, registramos enorme progresso. As técnicas construtivas evoluíram de uma produção semiartesanal para uma montagem industrial dos empreendimentos. A tecnologia da informação beneficiou tanto esta área como o planejamento e a administração, estando hoje presente em todas as fases, desde a concepção até o pós-obra.

Presidente do Sinduscon-SP revela como a indústria do setor está se comportando no cenário atual, o impacto das mudanças tecnológicas, e revela as tendências sobre o que vem por aí  na indústria de construção civil.

O setor de construção civil foi bastante impactado pela crise econômica. Quais foram as principais ações para estabilizar o setor e diminuir os efeitos do cenário negativo?

Sendo a indústria da construção dependente de decisões de investimento, a estabilização somente começou a vir a partir do momento em que a política econômica sinalizou o rumo de retomada do controle sobre as contas públicas e a criação de um ambiente favorável aos negócios. São ingredientes indispensáveis para a retomada de confiança dos investidores. Nesse sentido, as reformas, especialmente a da previdência, são fundamentais, além das medidas de desburocratização em curso.

Entretanto, ainda precisamos avançar. A retomada mais firme de obras de infraestrutura depende de novas concessões e privatizações. No âmbito imobiliário, novas quedas de juros e facilidades no acesso ao crédito seriam benéficas. E na habitação de interesse social, causa muita preocupação o contingenciamento dos recursos do orçamento, que está motivando atrasos de pagamento nas obras contratadas e insegurança das empresas em realizar novas contratações. Também preocupam e as liberações dos depósitos do FGTS, deixando as construtoras inseguras quanto à efetiva existência de recursos para financiar projetos futuros.

Quais as projeções do  SindusCon-SP para o crescimento do mercado brasileiro de construção civil no ano de 2019?

Estamos trabalhando com a perspectiva de um aumento do PIB da construção em 0,5%, alavancado principalmente pelo segmento de reformas e autoconstrução. Estimamos que uma melhora mais significativa dos setores de construção imobiliária e de obras de infraestrutura deverá vir apenas em 2020.

Atualmente qual é o grande desafio do setor de construção civil?

O grande desafio é conseguir elevar continuamente a produtividade em meio à crise econômica e à consequente baixa demanda por obras. A crise levou a uma queda da renda média da população, o que nos impõe o desafio constante de enxugar custos e aumentar a produtividade. Isto permitirá a oferta de produtos para todos os bolsos. Entretanto, este desafio também exige investimentos por parte das construtoras, e muitas acabaram descapitalizadas com a crise. Dependem do aquecimento do mercado para investirem na elevação de sua produtividade.

Quais as principais inovações e tendências do segmento?

Na parte construtiva, é a construção industrializada, os pré-moldados, a modernização do transporte nos canteiros de obras com a utilização de gruas, os insumos de melhor qualidade e durabilidade, a introdução da sustentabilidade ambiental na construção e na utilização dos empreendimentos. Na parte de projeto e execução, temos o BIM (Modelagem da Informação da Construção), que revolucionou a forma de projetar e executar as nossas obras. Outro grande avanço consistiu na Norma de Desempenho de Edificações, que inovou na normatização construtiva, além de assegurar segurança e níveis mínimos de conforto aos usuários.

Qual é a área de maior potencial no setor, por quê? E como estão se preparando para ela?

A utilização crescente de startups para incrementar a produtividade em todas as operações das empresas. Com o objetivo de colaborar para a aproximação das construtoras com estas novas empresas, o  SindusCon-SP criou o iCon, que ajuda nossas empresas associadas a inovarem na solução de problemas em suas diversas áreas.

A Construção Civil tem impacto relevante no cenário brasileiro e impulsiona muitos outros setores, como o de tratamento de superfície, por exemplo. Como ambos podem trabalhar conjuntamente para elevar a produção como um todo, contribuindo para melhorar a economia no geral?

As construtoras têm buscado uma aproximação constante com os fornecedores, na adequação dos produtos às suas necessidades que também são do mercado. Nessa direção, a formulação ou atualização de normas técnicas é uma ferramenta importante. O  SindusCon-SP coordena o Comitê Brasileiro da Construção (CB-002) da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e também participa do conselho dessa entidade.

Em quais outras áreas acha que o setor pode (ou deve) inovar? O segmento de construção também está sendo beneficiado pela conectividade e inteligência artificial?

Estamos acompanhando esta evolução com grande interesse. A inteligência artificial já está sendo utilizada, por exemplo, para mapear as necessidades dos consumidores, de modo a lhes oferecer produtos imobiliários adequados. A conectividade tem sido de grande utilidade para a comunicação entre construtoras, incorporadoras, fornecedores e projetistas.

Do ponto de vista tecnológico, como está o segmento no Brasil está em comparação com outros grandes centros produtores no mundo?

No que tange a planejamento, execução e métodos construtivos, estamos bastante atualizados. Naturalmente é possível seguir evoluindo em alguns itens, como a utilização de impressoras 3D cada vez maiores, e uso de equipamentos que agilizam o tempo da construção.

Qual a sua expectativa para a popularização da indústria 4.0? Em sua opinião, quais serão os reflexos imediatos dessa revolução e também quais serão os impactos a longo prazo?

A tendência é para a sua utilização crescente, na medida também em que seus custos sejam compatíveis com a evolução do mercado. Seus reflexos deverão se dar principalmente na elevação da qualidade dos produtos, bem como em uma manutenção mais adequada no pós-obra.

Qual sua visão geral para a economia brasileira, diante da possibilidade da aprovação de diversas reformas em discussão no Congresso Nacional e seu impacto para a indústria local?

Esperamos que o reflexo seja positivo no sentido de estimular mais investimentos, vindos também do exterior, para o financiamento da infraestrutura e da construção imobiliária. A indústria da construção tem um grande potencial de gerar desenvolvimento e emprego. O desafio, entretanto, é chegarmos a um ritmo de crescimento sustentável, tarefa para vários anos. Hoje a taxa de investimentos ainda está muito reduzida, cerca de 15% do PIB, quando ela deveria estar em 25%. Nesse sentido, o governo deveria persistir no rumo adotado, tomando o cuidado de não afugentar investidores com atitudes que parecem ofensivas a certos parceiros comerciais e ao meio ambiente, além de avançar com as privatizações e concessões e garantir recursos do Orçamento e o FGTS para a habitação popular.

O SindusCon-SP foi fundado em 1934 com o nome de Sindicato Patronal das Construtoras. “Logo no início de suas atividades, o Sindicato Patronal das Construtoras provou ser uma entidade de classe efetivamente preocupada e comprometida em coordenar os esforços e iniciativas da categoria em busca de um bem comum, mas não apenas para suas associadas, e sim para toda a sociedade”, como explicam em seu site.

A entidade se consolidou nas décadas de 1950 e 60, promovendo ações profissionalizantes e participando ativamente das discussões sobre a formalização das leis trabalhistas. Em 1974 funda sua sede própria, local na capital paulista em que está até hoje. Nos anos 80 passa a oferecer índices do setor, como “a divulgação mensal do CUB (Custo Unitário Básico) da construção paulista, principal indicador do mercado e referência até hoje. Também nasceram os primeiros informativos e os cursos de qualificação em parceria com o Senai. E, atendendo um pleito do mercado, foram criadas as Regionais no Interior do Estado”. E entre suas importantes conquistas na década seguinte está a publicação da Lei 8.666/93, Lei de Licitações e Contratos, que facilitou o acesso das empresas do setor na participação de concorrências.  Nos anos 2000, o setor foi ao auge, porém, a partir de 2014 começou a sofrer os impactos da economia brasileira, em crise. “Chegando aos dias atuais, (...) permanece a convicção de que a cadeia produtiva da construção tem um papel importante a desempenhar para que a economia se desenvolva de forma firme e consistente. Pesa aí não apenas o fato de ser um dos maiores empregadores em nível nacional, mas, principalmente, a certeza de que o setor da construção é o indutor de mudanças profundas e é responsável, realmente, pela construção de um país maior e melhor”, dizem.

A indústria da construção civil é um dos grandes setores consumeristas em tratamento de superfície; principalmente, nos produtos e técnicas anticorrosão.

Por Ana Carolina Coutinho

 

Acesse o conteúdo original publicado na revista Tratamento de Superfície, edição 216, página 7-9

Acesse a edição 216 digital | Setembro 2019

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