Com receita prevista de aproximadamente U$ 18 bi para o setor de tratamento de superfície, Carsten Gerleman, CEO e Vice-presidente da Umicore AL, discorre sobre de onde virá essa demanda e fala sobre o futuro da companhia
“Enfrentar a sustentabilidade não é apenas tornar as operações mais verdes. A mudança real requer a construção de um movimento social e a pressão sobre os políticos para implementar mudanças em grande escala.”
No Brasil já há 40 anos, Carsten Gerleman traz uma abordagem guiada por sua cultura e genética para enxergar os negócios e a vida aqui no país: “É amplamente reconhecido que o Brasil é um país rico com enormes recursos, minerais, terra, água, florestas e pessoas. Mas também é país com muitos desperdícios. Queimamos nossas florestas; poluímos nossas águas e o ar que respiramos. Nós desperdiçamos nosso bônus demográfico, elegemos políticos corruptos e desperdiçamos nossa juventude por não fornecer uma educação adequada. Países com menos recursos que o Brasil estão mais preocupados com esses assuntos”. Nesta entrevista, o executivo, formado em Administração e Finanças, na Suécia, e em Negócios Internacionais, nos Estados Unidos, conta-nos um pouco mais sobre o foco da Umicore dentro da nova realidade mundial, enxergando com otimismo o futuro de sua companhia, da economia, e, principalmente, do setor de galvanoplastia. Confira.
Qual o cenário da indústria de Tratamento de Superfícies no mundo? E como a Umicore se insere dentro dessa realidade?
A indústria de tratamento de superfícies tem acompanhado a retomada de crescimento mundial, segundo dados mais recentes da pesquisa ‘Electroplating Market Review da Industry ARC’ (acesse aqui) indica uma previsão de receita acumulada de aproximadamente $18 bilhões de dólares até 2025. As indústrias do setor estão continuamente evoluindo, lançando produtos e processos cada vez mais ecológicos e com alta performance nos requisitos de qualidade. A rápida retomada da economia mundial tem impulsionado o mercado de tratamento de superfícies com alta demanda em setores como: indústria automotiva, eletrônica, construção civil e semicondutores. Atualmente a indústria automotiva é um dos maiores consumidores em tratamento de superfícies utilizando metais como zinco, cromo, níquel, paládio e ouro. Nesta indústria, os fabricantes estão sempre procurando novas maneiras de proteger seus produtos das forças implacáveis da corrosão, o que desafia as empresas a buscarem produtos com requisitos técnicos cada vez mais elevados. A crescente demanda por produtos eletrônicos mais sofisticados tem impulsionado o crescimento do mercado de tratamento de superfícies devido à inovação contínua de seus produtos. A produção de dispositivos e componentes eletroeletrônicos requer o uso de galvanoplastia para revestir suas superfícies metálicas. Cada vez mais as indústrias utilizam componentes revestidos com metais preciosos para melhorar características como resistência à corrosão, resistência ao desgaste, capacidade de soldagem e condutividade elétrica. A Umicore vem de encontro a essas tendências produzindo produtos e processos utilizados nas indústrias automotiva, eletrônica, joalheria e mercado decorativo em geral, buscando a inovação com aposta em produtos cada vez mais ecológicos, sem o uso de metais pesados e isentos de substancias tóxicas como o cianeto. Com a recente alta dos metais preciosos a Umicore vem desenvolvendo produtos alternativos com diferentes ligas metálicas, mais econômicas, mantendo a mesma performance e qualidade dos seus processos.
Qual a estrutura da Umicore no Brasil e América Latina hoje?
Nossas operações no Brasil começaram em 1954, há quase 70 anos. A indústria automotiva sempre esteve em foco e construímos a primeira fábrica de catalisadores automotivos no início dos anos 90. Agora temos 4 unidades industriais no Brasil e uma entidade farmacêutica na Argentina. Empregamos cerca de 700 pessoas e cerca de 40% da nossa produção é exportada.
Conte-nos um pouco de sua história e sua relação com o Brasil.
Sou sueco, mas me considero mais brasileiro do que sueco. Estou no Brasil há 40 anos e testemunhei uma transformação extraordinária do país. É amplamente reconhecido que o Brasil é um país rico com enormes recursos, minerais, terra, água, florestas e pessoas. Mas também é um país com muitos desperdícios. Queimamos nossas florestas; poluímos nossas águas e o ar que respiramos. Nós desperdiçamos nosso bônus demográfico, elegemos políticos corruptos e desperdiçamos nossa juventude por não fornecer uma educação adequada. Países com menos recursos que o Brasil estão mais preocupados com esses assuntos.
Como você definiria a Umicore atualmente?
A Umicore é um grupo global de tecnologia de materiais e reciclagem. Nossa missão é fornecer materiais para uma vida melhor e fazemos isso em todas as nossas atividades. Reduzimos as emissões prejudiciais, propulsionamos os veículos e tecnologias do futuro e damos uma nova vida aos metais usados.
A empresa está pautada por operações com foco em preservação do meio ambiente e sustentabilidade; como se dá essa questão na prática?
Enfrentar a sustentabilidade não é apenas tornar as operações mais verdes. A mudança real requer a construção de um movimento social e a pressão sobre os políticos para implementar mudanças em grande escala. Mas para fazer a mudança acontecer, primeiro precisamos acreditar na ciência. Infelizmente, ultimamente temos visto uma desconsideração sem precedentes do conhecimento científico que causou mortes relacionadas à Covid e atrasos no processo de redução do efeito do aquecimento global.
Em sua opinião, qual o papel que as indústrias têm dentro desse conceito?
Temos a convicção de que as indústrias têm papel de destaque na transformação para uma sociedade mais sustentável. Precisamos de ações imediatas para limitar o aquecimento global, desenvolver uma economia circular que trate os resíduos como um recurso, diminuir o uso de energia não renovável e promover a diversidade e a inclusão.
Como você enxerga o futuro da Umicore?
A Umicore é uma empresa global na revolução de veículos elétricos, que está transformando a indústria automotiva. A mobilidade elétrica é um fato que, dentro de alguns anos, substituirá os automóveis de motores a combustão usando combustível fóssil não renovável. Alguns mercados se moverão mais rápido, China, Estados Unidos e Europa estão na vanguarda. O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Já existem algumas iniciativas públicas, porém, ainda muito tímidas. A expansão futura da mobilidade elétrica dependerá da participação ativa do governo, responsável pelas políticas públicas de transporte e meio ambiente. É importante entender para onde estamos indo e cabe ao governo definir a rapidez com que chegaremos lá.
O que podemos esperar do futuro em Tratamento de Superfície?
Com o aumento dos requisitos da indústria em relação a performance, qualidade e funcionalidade o setor de tratamento de superfície está em constante mudança. Vemos uma preocupação crescente das empresas com a sustentabilidade, controle de efluentes, uso consciente de água e restrição a metais pesados como chumbo, cádmio, berílio, cromo hexavalente e elementos tóxicos como o cianeto. Os tópicos que mais temos observado para o futuro em tratamento de superfícies são: a redução das camadas de metais preciosos, buscando manter as mesmas características como resistência a corrosão, desgaste, oxidação e baixa porosidade. A busca por novas ligas metálicas mais econômicas; a substituição de processos cianídricos por processos sem compostos tóxicos; a eliminação de metais pesados como cádmio e chumbo; novos métodos de gestão e controle de água, bem como, o gerenciamento dos efluentes gerados na indústria. O compromisso da Umicore vai além desses produtos e serviços, gerenciamos o impacto que nossas operações têm sobre o meio ambiente de forma responsável, buscando a excelência operacional de forma transparente e construtiva.
Relatório sobre o Mercado de Galvanoplastia
A Industry ACR é uma companhia especializada em pesquisa de Mercado, consultoria e análise de dados de segmentos indústriais. O relatório sobre o Mercado de Galvanoplastia 2020-2025 já está disponível. É pago.
Para conferir os seus tópicos e contextualização, acesse aqui