Abordagem NBR ISO 14001 – Sistema de Gestão Ambiental – Requisitos com orientações para uso
Cacilda Drumond
Mestre em Meio Ambiente, Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho e Especialista em Sistema de Gestão – QSMA.
A ABNT NBR ISO 14001 especifica os requisitos de um Sistema de Gestão Ambiental com o propósito de possibilitar às organizações a estruturação de seus processos com foco na proteção do meio ambiente, inclusive em pronta resposta às mudanças ambientais. Tais requisitos pretendem levar à organização a aumentar seu desempenho ambiental, através do gerenciamento suas responsabilidades, de forma sistemática, contribuindo para o pilar da sustentabilidade e com abrangência de aspectos relacionados ao meio ambiente diretamente sob seu controle, bem como aqueles que a organização influencia em processo produtivo.
Por que encaixar os processos da minha organização num sistema de gestão ambiental baseado na ISO?
Por definição, contribuir com o desenvolvimento sustentável é premissa significativa no mercado, independentemente do seguimento e porte da empresa. É senso comum o conhecimento da relevante influência humana nas mudanças no meio ambiente; e o consumidor, enquanto cidadão, traz seu olhar cada vez mais voltado para essa vertente.
O engajamento com as questões ambientais deixou de ser uma tendência minoritária e se apresenta cada dia mais forte, na responsabilidade de consumo. As relações de mercado também motivam empresas a disseminar a consciência ambiental na sua cadeia produtiva, envolvendo as partes interessadas e correlacionando fornecedores, clientes, acionistas, comunidade, funcionários, entre outros, inerentes ao negócio. A partir da conscientização, a atitude organizacional coerente demonstra responsabilidade e comprometimento, já que, de alguma forma, estamos envolvidos em algum desses papéis, direta ou indiretamente. Seja numa condição em que o cliente exija o comprometimento e evidências de sua prática – ou até mesmo a certificação de um sistema, na condição de fornecedor–, seja como empresa que define critérios em suas relações de consumo, a fim de assegurar, minimamente, compras “legais”, sob o ponto de vista de regularidade ambiental.
Por outro lado, e diferentemente do que pode parecer, na estruturação de um sistema de gestão ambiental, também pretende-se ganhos econômicos a partir do desenvolvimento sustentável. A otimização de processos, os controles eficazes, a gestão de fornecedores, o monitoramento de cumprimento de requisitos legais, entre vários outros fatores, são oportunos para a lucratividade. Ampliação de mercado, inclusive exportação, redução de passivos que podem desencadear em autuações e multas ou mesmo a concessão de financiamentos a juros mais convidativos já justificam essa possibilidade.
E o uso da ISO serve para quê?
Dentre inúmeros benefícios, podemos falar de:
- Ampliação de atuação no mercado - oportunidades de negócio, inclusive exportação;
- Transparência na projeção da imagem organizacional ao mercado;
- Redução de riscos: ambientais, financeiros, de imagem;
- Redução de consumo de recursos naturais;
- Promoção do uso de tecnologias sustentáveis;
- Capacitação e conscientização de partes interessadas;
- Possibilidade de motivação ao desenvolvimento de fornecedores;
- Aumento das possibilidades de financiamentos, devido ao bom histórico ambiental.
Como desburocratizar a interpretação da ISO – encaixo a minha empresa numa norma ou trago a norma pra minha empresa?
A aderência a uma norma ou a adequação do modelo de gestão organizacional aos seus requisitos precisa ser, necessariamente, uma decisão estratégica. Há dores e benefícios específicos, incluindo os próprios fatores que motivam a decisão. As empresas trazem a norma para o seu conjunto de processos e, então, os adequam para demonstrar o atendimento ao que uma norma requer. O propósito pode ser a certificação do sistema por um organismo acreditado ou, em poucos casos, a adoção referencial para parametrizar suas práticas de gestão.
Muitas vezes, não sabemos por que queremos algo, o que nos motiva. Outras vezes, a certificação voluntária se torna compulsória por um requisito contratual, por exemplo, sequer ficando clara a premissa básica de haver a decisão atrelada ao comprometimento da direção, numa visão estratégica e não desassociada. Quando a organização definir sua política de gestão ambiental, precisará demonstrar esse envolvimento porque é a direção quem assina embaixo, literalmente, estabelecendo e declarando aos envolvidos, o comprometimento com a proteção do meio ambiente, com o atendimento à legislação e com quaisquer requisitos adicionais, além da melhoria contínua do sistema de gestão ambiental para aumentar o desempenho dos processos no seu fluxo de produção. Ou seja, essa não é uma fala que possa ser iniciada sem a linha estratégica.
O desafio está aí! Dessa forma, um sistema de gestão ambiental deve estar inserido no sistema de gestão estratégica e vice-versa por serem uma coisa só. Falando a mesma língua, serão respeitados os valores, princípios e premissas da organização sem levá-la à perda de sua identidade organizacional. O contexto de trazer uma norma pra organização não se limita a desburocratizar. O foco, na verdade, é não se deixar corromper pela falsa ideia de que há necessidade de burocratizar. Esse mito traz inúmeros conceitos equivocados acerca das normas de gestão. Nada justifica retrocesso, nem a obrigatoriedade de aderência a uma norma nem qualquer ferramenta de gestão usada para adequação dos processos de gestão.
A adequação do sistema levará a organização, por exemplo, à necessidade de maior formalização nas relações de consumo e de fornecimento, à demonstração da regularidade no atendimento aos requisitos legais – por ela e por suas partes interessadas – e à própria necessidade de demonstrar que capacita seus funcionários. Isso não é ISO, é USO. Cumprir a lei sempre foi obrigação, cuidar de passivos nas relações de consumo e fornecimento sempre refletiu em gestão de riscos e ter gente que funciona vendendo nosso peixe com a mesma fidelidade de um fundador não é ISO, é USO, é a vida real. É uso, de forma sistemática e com uma boa receita escrita a muitas mãos, por representantes de vários países, com aplicabilidade a quaisquer segmentos.
Há muitos motivos para considerar a importância de uma estruturação dos processos organizacionais sob a ótica ambiental a partir de um padrão internacional. Mas não há motivos pra considerar inacessível essa oportunidade, seja pelo ramo de atuação ou pelo porte e, muito menos, porque não entendemos, com clareza, a proposta. Antes de tudo, ela “reza o mesmo Credo que pretendemos rezar”. Ela não suprime, em nenhum momento, a sustentabilidade do negócio ao tratar a sustentabilidade ambiental. Enquanto organização, deve-se continuar assegurando a lucratividade. Sim, porque é preciso. Então, por que não trazer junto a sustentabilidade? Afinal, caminha-se buscando a continuidade do negócio, com um olhar para as partes interessadas e, sobretudo, para a continuidade do mundo em que ele está inserido.
Cacilda Drumond é Mestre em Meio Ambiente, Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho. Auditora Líder credenciada NBR ISO 9001, 14001, 27001, ISO 45001 e SiAC PBQP-h. Atua em sistemas de gestão há 20 anos em consultoria, auditoria e capacitação de pessoas. Professora pós-graduação PUC-MG e UNIBH.
Acesse o conteúdo original publicado na revista Tratamento de Superfície, edição 218, página 41-42