Conheça a carreira de um dos mais profícuos profissionais do setor. Roberto Motta de Sillos conta sua trajetória, ainda com muitos caminhos a percorrer, em mais de 50 anos de atuação em galvanoplastia
Um encantamento e curiosidade iniciais se transformaram na carreira de mais de cinquenta anos; dessa maneira podemos colocar em uma frase o início e o atual momento profissional de Roberto Motta de Sillos, que, nessas cinco décadas, criou, inovou e solidificou sua atuação no setor de tratamento de superfície, seja como executivo em grandes corporações, em gestões na própria ABTS, incluindo como presidente, e também compartilhando seus conhecimentos na docência. Motta iniciou sua vida profissional como estagiário químico no departamento de processos industriais da Volkswagen do Brasil, em 1967. “Após passar pelos laboratórios de tintas, têmpera e fundição, adesivos, óleos e fosfatização, acabou optando e fixando-se no de galvanoplastia por ter se intrigado ao ver um painel de latão imergir em uma célula de Hull e sair niquelado”, contou. Na Volkswagen, trabalhou por mais de uma década; época em que vivenciou a ‘Era de ouro’ da cromação decorativa. “Como curiosidade, eram 160 mil litros de banhos de níquel no sistema tríplex e 120 mil litros de cromo microfissurado. Em cada tanque de 10 mil litros eram processados 12 para-choques em duas gancheiras, simultaneamente. Tive a honra de ter trabalhado com Hans Rieper, técnico especializado formado em galvanoplastia na Alemanha, com quem aprendi por osmose”, disse.
CONQUISTAS E INOVAÇÕES
A indústria, que almeja perenidade, precisa se transformar, modernizar. E uma das mais vanguardistas nesse sentido é a indústria automotiva, que investe constantemente em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Por isso, em 1980, com a revolução da pintura em plástico, a Volks desativou as linhas de cromação, segundo Motta. Pouco antes, em 1978, o executivo foi convidado pelo ex-presidente da ABTS, Milton Guarnieri de Miranda, já falecido, para gerenciar a equipe de Galvanoplastia e de Polimento da Walita Eletrodomésticos. Era uma linha de produção diferenciada, uma “fantástica instalação automática distribuída em três linhas paralelas interligadas entre si, cromando peças de ferro e ABS, numa relação de 2:1. Foram mais seis anos de grande aprendizado, sendo a cromação de plástico uma arte apaixonante”, conta Motta. Sua vivência nessas duas grandes empresas geraram um acúmulo de conhecimentos que resultaram em inovações ao executar a sua liderança. Uma delas, por exemplo, foi a implantação de um método preventivo de manutenção que conseguiu reduzir a perda de peças de ferro para zero e de peças de ABS para menos de 3%! “Infelizmente, com a adoção do plástico colorido nos eletrodomésticos, “a produção em três turnos caiu para menos de um, culminando com sua desativação total em 1984”, revelou. Já atuando na Projetores Cibiè, atualmente Grupo Valeo, Motta agregou experiência com a metalização à vácuo nas linhas produtivas, liderando mais de cem colaboradores no departamento de acabamento que continha “laboratório, polimento, fosfatização, metalização à vácuo e zincagem”. Pautado por essa solidez na entrega de resultados, e agora trabalhando com os irmãos Ett da Cascadura Industrial, foi convidado por eles “para construir uma máquina a vácuo para deposição de nitreto de titânio em moldes e ferramentas, além de acompanhar na galvanoplastia a qualidade do cromo duro, níquel químico e anodização dura”. Em 1987, inovando mais uma vez, ainda na Cascadura, conseguiu processar, “as primeiras peças douradas de nitreto de titânio que, com apenas três micrometros, proporcionava uma dureza Vickers três vezes superior ao cromo duro”, uma grande novidade à época. Sua atuação na área industrial foi uma das mais duradoras, foram 23 anos atendendo fornecedores e adquirindo produtos. Ele mesmo conta que sempre teve a curiosidade de conhecer o “outro lado da mesa. Em 1989, fui convidado por Airi Zanini para ser representante comercial na Rohco Química - absorvida dois anos depois pela Roshaw Química. E, em 1993, através de um ‘head hunter’ fui contratado pela Inbra Indústrias Químicas para gerenciar a divisão química da MacDermid do Brasil. E 1997, como autônomo, fui gerenciar o departamento comercial da Anion Química Industrial, atuando como representante regional no Sudeste e Sul do Brasil. 11 anos depois, convidado por Luiz Santos, ingressei na SurTec do Brasil, responsável por montadoras, gerência de produtos e marketing. Com a saída do Luiz Santos fui com ele para a Quimidream onde encerrei esta fase após quatro anos, em 2014”.
ABTS CONCEDE NOVAS HABILIDADES
Mesmo dedicando tamanha atenção ao desenvolvimento das empresas onde trabalhava, Motta aliava suas atividades também no desenvolvimento e aprimoramento do setor como um todo, exercendo diversos cargos na Associação Brasileira de Tratamento de Superfície.
“Associei-me e passei a fazer parte do Conselho da ABTS em 1978, onde exerci várias funções passando de conselheiro, diretor cultural, vice-presidente e presidente na gestão 1997 a 1999”, revelou. Conjuntamente, Motta, como professor, transmitia seu conhecimento, proporcionando às novas gerações de profissionais, uma grande experiência gerencial, executiva e técnica, características fundamentais para os profissionais do futuro. “Desde 1979, sou professor das aulas de banhos de zinco e banhos de cobre e suas diversas ligas, substituindo os titulares Milton Miranda e Ludwig Rudolph Spier, respectivamente”, diz, com o orgulho que repassou sua expertise “para, pelo menos, três mil alunos em 40 anos!”.
Ao revelar um de seus principais desafios vivenciados na ABTS, não se esquece de uma apresentação que realizou nos Estados Unidos, em Detroit, quando presidia a associação: “Foi no Sur-Fin de 1997, quando apresentei as excelentes oportunidades de negócios em nosso País com a previsão de aumento de quatro para 14 montadoras em curto prazo. Fato relevante que realmente marcou e ocorreu”. Coloca na mesma cesta, a importante incumbência de realizar a coordenação dos EBRATS 2000 e 2003, “numa época de grande atividade econômica e industrial, cujo êxito de ambos os eventos foi muito elogiado e reconhecido”, lembrou. Sua atuação na ABTS deu-se até ano passado, 2018, quando desde 2014 atuava como secretário executivo da associação. Atualmente, Motta é consultor e professor também na modalidade in company. Para finalizar, ele diz: “Concluindo, me considero um privilegiado por ter passado por grandes empresas, fartas de equipamentos de controle que me proporcionaram tudo que aprendi e na vivência comercial, conheci instalações das mais diversas, com seus problemas particulares, que me deram grande bagagem e jogo de cintura”. E ele não encerra as suas possibilidades de novos aprendizados, ao asseverar em sua última frase: “Evidentemente, também tenho muito para aprender”.
Fale com o profissional: rm.sillos@terra.com.br
Por Ana Carolina Coutinho