Dirigente da FIESP/CIESP afirma que perda de competitividade da indústria, agravada pela pandemia, é prejudicial à economia brasileira.
Rafael Cervone, vice-presidente da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP/CIESP), alerta que a queda de 2,4% da produção do setor em março e de 0,4% no acumulado do primeiro trimestre, conforme divulgou o IBGE na quarta-feira (5/5), "mostra a urgência de política eficaz que fortaleça a atividade". Foi o segundo recuo mensal consecutivo e mais acentuado do que o 1% registrado em fevereiro, quando se interrompeu trajetória de nove meses seguidos de recuperação.
Cervone enfatiza a informação do IBGE de que o resultado de março leva o setor industrial a um patamar 16,5% abaixo do recorde do desempenho da produção registrado em maio de 2011. "Voltamos ao nível pré-pandemia, como se tivéssemos parado no tempo desde fevereiro de 2020", avaliou. A segunda onda da Covid-19 e as medidas adotadas em vários Estados para conter o contágio pegaram novamente o setor no contrapé, interrompendo a recuperação verificada no quarto trimestre de 2020, analisa o empresário.
O dirigente da FIESP/CIESP lembra que a indústria brasileira já vinha enfrentando, há muitos anos, sistemática queda de competitividade, devido aos conhecidos fatores do Custo Brasil, como os altos impostos, insegurança jurídica, excesso de burocracia, encargos trabalhistas onerosos e anacrônicos, dentre outros. "Nosso setor paga tributos de modo desproporcional, pois representa 11% do PIB, mas responde por 33% da arrecadação dos impostos federais e 31,2% da previdenciária patronal". Apesar disso, é responsável por mais da metade das exportações de bens, 69,2% do investimento empresarial em P&D e 20,4% dos empregos formais, além de pagar os melhores salários".
Os números, afirma Cervone, demonstram a importância da indústria para a retomada do crescimento sustentado do País e, ao mesmo tempo, indicam ser necessário corrigir a distorção tributária, com isonomia entre todos os setores. "A rigor, queremos que todos paguem menos e que o sistema tributário estimule a abertura e crescimento de empresas, o que garantiria maior receita fiscal para o Estado e ônus menores para a sociedade".
Considerando a importância da reforma tributária, Cervone também lamentou a dissolução da Comissão Mista que trata do assunto no Congresso Nacional, recém anunciada, temendo que o fato possa retardar ainda mais a tramitação da matéria. "Neste momento, no qual é prioritário salvar vidas, também precisamos realizar, em plena crise, as reformas postergadas por décadas, a começar por um novo sistema de impostos, mais justo, isonômico, que não taxe investimentos e exportações e incentive o empreendedorismo. É urgente, ainda, uma política industrial eficaz, pois as nações que conseguiram dobrar a renda em menos de duas décadas foram somente aquelas que elevaram a participação do setor no PIB acima de 20%", conclui Cervone.