Mauro Paraiso, Especialista em Engenharia de Materiais e Processos
Quando comecei minha jornada na Mercedes-Benz do Brasil, nos anos de 1980, uma das coisas que mais me intrigava era o complexo sistema de planejamento da empresa. Havia o planejamento anual (Budget), o de três anos (Operative Planung), e até um de dez anos (Strategische Planung). Essa estrutura dava uma sensação de segurança, como se pudéssemos prever o futuro.
Pensar que a empresa delineava um plano para a próxima década parecia quase surreal. Com o passar dos anos, no entanto, comecei a ver esses planos de dez anos como uma espécie de ‘ficção científica’. Claro, eles eram essenciais para o planejamento financeiro de uma grande corporação e sua matriz ainda maior; mas a realidade sempre trazia desafios inesperados, exigindo uma gestão que eu chamava de ‘on demand’. Isso significava agir rapidamente para atender as demandas dos clientes, sacrificando, por vezes, a eficiência em favor da eficácia. Esse estilo de gestão era viciante, dando-nos a sensação de protagonismo, de ‘fazer acontecer’. Mas valia a pena, considerando o custo envolvido?
Na verdade, nem a gestão totalmente planejada nem a gestão ‘on demand’ são completamente satisfatórias. Liderar requer estar antenado às tendências globais e locais – até 2010, a Mercedes-Benz do Brasil fornecia assinaturas de jornais e revistas aos seus executivos para que estivessem bem informados –, além disso, é crucial conhecer profundamente o próprio negócio, clientes, recursos e equipe para utilizar a informação de forma eficiente e eficaz.
Um líder deve ter a cabeça nas nuvens para enxergar mais longe, mas os pés no chão para focar onde o trabalho realmente acontece. Revistas, como a Tratamento de Superfície, equilibram essas duas perspectivas, mostrando o que está por vir e relatando trabalhos bem-feitos que inspiram ações semelhantes.
O mundo atual, com IA, ESG, instabilidades econômicas e jurídicas, epidemias, guerras e desastres ambientais, é desafiador. No entanto, ao olharmos para os desafios superados ao longo do século 20, somos inspirados a colocar os pés no chão e fazer o que precisa ser feito para que nossas empresas não apenas sobrevivam, mas prosperem e cresçam, recebendo a merecida recompensa de seus clientes.
Novos desafios exigem estudo e reflexão (cabeça nas nuvens), mas só serão superados com trabalho árduo e determinação (pés no chão e mãos na massa). Bom trabalho!
Mauro Paraíso
Possui experiência de mais de 34 anos na Mercedes-Benz do Brasil, nas áreas da Qualidade e Engenharia de Materiais e Processos. Tem larga experiência em análise de falhas, metalografia, ensaios mecânicos e não destrutivos, tratamento térmico, soldagem e estamparia; além de sólidos conhecimentos em ferramentas e normas da qualidade e sistemas de produção enxuta. Mestre em Engenharia de Materiais pela Escola Politécnica - USP, foi docente em duas universidades. Atualmente, é Especialista em Engenharia de Materiais e Processos na Tekma, onde também atua como consultor na área da mobilidade.