Barbieri: “Tudo que está a nossa volta tem a superfície tratada, então, quando o nosso país tiver um crescimento virtuoso, todos os segmentos do nosso setor também participarão deste crescimento”
Marco Antonio Barbieri tem uma experiência de décadas no setor de Tratamento de Superfícies, praticamente só trabalhou na área, passando por diversos segmentos. Possui empresa própria, a Wadyclor – Cromadora de Peças Plásticas, e atua há mais de 30 anos no SINDISUPER, instituição que agora preside, em mandato que vai até 2022. Esta entrevista busca desenvolver toda essa expertise, oferecendo um panorama sobre o mercado de ontem, hoje e amanhã.
Para você, quais foram os momentos mais pontuais para o segmento de tratamento de superfícies?
Comecei minha carreira aos 16 anos como office-boy (hoje tenho 65); aos 17, comecei a ajudar a fazer orçamentos e aos 18 como representante comercial. Nessa fase, aprendi muito com os clientes, suas necessidades e visão sobre os serviços que ofereciam e, principalmente, aprendi a ter muita paciência com os ‘chás de cadeira’ que tomava. Com a assinatura do decreto 8.468, de setembro de 1976, que aprovava e regulamentava a lei 997, de maio de 76, que dispunha sobre a prevenção e o controle da poluição e meio ambiente, fui com meu pai participar de uma reunião na sede do SINDISUPER, presidida pelo saudoso Roberto Della Manna, para tomarmos conhecimento sobre o decreto e as consequências para nosso setor. Anos mais tarde, formamos uma Comissão, denominada Comissão SINDISUPER de Efluentes Industriais, para propor soluções e negociar com o Governo uma forma de as empresas poderem atender a legislação ambiental. Para mim este foi um grande marco. A partir daí, comecei meu trabalho no sindicato focando, principalmente, nas áreas ambientais e nas negociações trabalhistas. Tendo como mentor o Della Manna, e com a ajuda de muitos companheiros que estão conosco até hoje – e de alguns que infelizmente nos deixaram–, conseguimos que as empresas se adequassem à legislação e até desenvolvemos, junto com o IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas], tecnologia para o tratamento dos resíduos do tratamento de efluentes. Tão importante quanto foi a evolução no cuidado com o trabalhador a partir dos programas de prevenção a riscos ambientais e de medicina e saúde ocupacional, que, no setor, eles tiveram um tratamento especial, pois foram desenvolvidos em uma comissão tripartite entre o Sindicato Laboral, o Sindicato Patronal e órgãos do Governo, como a FUNDACENTRO.
Quais são as diretrizes que sua experiência pretende implantar durante a sua gestão no SINDISUPER?
Os cuidados com os colaboradores devem ser sempre uma prioridade do setor. Devemos sempre orientar os dirigentes das empresas sobre a importância dos programas de prevenção aos riscos ambientais e da saúde ocupacional. A questão ambiental precisa continuar a ser um dos principais focos de nossa gestão, o empresário precisa tomar um melhor conhecimento sobre a legislação, dos riscos envolvidos no processo de Tratamento de Superfícies, e precisa quantificar os custos do passivo ambiental que está adquirindo. Buscar conhecimento para a prevenção de danos ambientais será uma das formas de minimizar impactos futuros. A legislação tributária também é um ponto de atenção importantíssimo. Mudanças estão porvir e precisamos estar atentos para que o setor não seja prejudicado com essas alterações.
A desindustrialização ocorreu em todos os setores da economia. Em sua opinião, qual foi o diferencial daqueles que conseguiram passar pelas piores crises?
Focaram em nichos de mercado onde eram especializados, perceberam as mudanças causadas pela importação de produtos já acabados, atualizaram o tamanho da empresa em função do mercado, não promoveram concorrência predatória, controlaram o fluxo de caixa de forma adequada, investiram em conhecimento e novos métodos de produção mais eficientes.
No mesmo sentido, qual a orientação para o fortalecimento dessas companhias?
Fornecer serviços sempre com mais qualidade, buscar conhecimento e entender todos os custos envolvidos no processo produtivo, inclusive – e principalmente – os ambientais, e não entrar no jogo da concorrência predatória.
Como enxerga o futuro do setor?
Tudo o que está a nossa volta tem a superfície tratada, o setor pode ser considerado perene desde que tenhamos competência para produzir bem o que sabemos fazer. Quem dita as tendências é o mercado, somos prestadores de serviço e temos que nos adaptar a ele.
Qual o principal desafio do setor de tratamento de superfície hoje?
O desafio não é somente do nosso setor, precisamos nos profissionalizar cada vez mais para seguirmos em frente. O conhecimento é a base de tudo, sem ele navegamos sem bússola.
Dentro do segmento de Tratamento de Superfície, quais são os segmentos mais promissores, por quê?
Eu me arrisco a dizer que todos os segmentos são promissores, desde que o nosso país consiga evoluir nas mudanças da economia e reformas que são tão necessárias. Novamente, tudo que está a nossa volta tem a superfície tratada, então, quando o nosso país tiver um crescimento virtuoso, todos os segmentos do nosso setor também participarão deste crescimento.
Quais são as novidades sobre a parceria do SINDISUPER com a ABTS?
Da mesma forma que ocorre com a FIESP, somos entidades irmãs desde sempre. A ABTS é o braço cultural e comercial que prove excelentes cursos disponibilizados a todos, e também, com as feiras, palestras técnicas e eventos que promove, permite uma maior integração entre a cadeia produtiva. O SINDISUPER é o braço político e, principalmente, de negociação, que atua para proteger o setor e dar a ele a informação e respaldo necessários para que possa evoluir naturalmente.
O SINDISUPER apoia a pesquisa para o desenvolvimento do setor?
Conforme mencionado, já apoiamos e desenvolvemos de pesquisa na área de tratamento residuário. Também fomos parceiros junto ao SENAI da Escola Suiço-Brasileira na implantação de uma linha de galvanoplastia para servir de laboratório aos alunos daquela escola – além de poder auxiliar as empresas a desenvolverem tecnologia usando a expertise do SENAI. É nossa intenção unir esforços com a ABTS, e SENAI e Universidades para dar continuidade a este apoio de desenvolvimento tecnológico.
O que o associado deve saber sobre o Sindsuper que talvez ele desconheça?
Respondo a esta questão com um pequeno artigo que publiquei alguns meses atrás:
“A recente alteração na Lei trabalhista trouxe a novidade da extinção do Imposto Sindical cobrado tanto do lado laboral como do lado patronal. Com uma expressiva votação na FIESP, os Sindicatos Patronais foram a favor de sua extinção, pois não tem mais sentido que seja cobrado das empresas mais impostos num país onde a carga tributária já é tão alta. Isto não significa que os Sindicatos deixarão de existir, pelo contrário, acredito que estarão cada vez mais presentes para representar os setores industriais que precisam estar organizados. Um Sindicato patronal atuante não é aquele que se preocupa somente com as negociações trabalhistas, mas o que se envolve em inúmeras outras demandas de seus associados nas áreas: ambiental, tributária, jurídica, trabalhista, saúde ocupacional, qualidade, treinamento, etc. Claro que para esta estrutura toda poder funcionar, os sindicatos necessitam de recursos financeiros, para pagar os custos da estrutura e colaboradores que desenvolvem o papel primordial no trabalho do dia a dia. Associar-se voluntariamente ao Sindicato que representa a empresa setorialmente, e participar de sua gestão, é uma das atitudes mais inteligentes que o empresário moderno pode ter. Estando próximo de seus pares nas discussões dos problemas comuns, os empresários podem conquistar um espaço cada vez mais importante para sua empresa e consequentemente alavancar negócios que levarão o país a um lugar almejado. Não existe país FORTE sem uma Indústria FORTE, e a união consciente de empresários que tenham ideias avançadas trará os resultados tão esperados por todos os que acreditam num Brasil melhor.”
São quase 100 anos de SINDISUPER. É possível fazer uma análise da evolução do setor nesse século?
Muitas foram as mudanças na indústria nesse período, e a indústria de Tratamento de Superfícies também mudou para acompanhar essa evolução. Tudo que era ficção científica, hoje é realidade. Novas tecnologias e avanços incríveis foram testemunhados por todos nós. Revestimentos novos foram desenvolvidos para atender à demanda dos novos produtos, métodos de produção foram totalmente modificados visando essas alterações. Na medida em que a humanidade começa a perceber a necessidade de cuidar do meio ambiente e da saúde ocupacional surgem e novos métodos de produção mais limpa, que começam a nortear os projetos de novas plantas industriais. Desde os alquimistas até hoje, o Tratamento de Superfícies tem evoluído para acompanhar as necessidades que temos de dar proteção e acabamento dos produtos.