No início de julho faleceu um dos grandes nomes quando se trata de Tratamento de Superfícies, Volkmar Ett. Conheça a sua trajetória, repleta de contribuições ao setor e a muitas outras áreas, como medicina, aeroespacial, nanotecnologia e muito mais

Seu pai, Eng. Gerhard Ett, mãe Ursula Ana Maria Amalie Ett, irmãos Rolf Rüdiger Ett e Jürgen Ett

“Ele partiu para uma nova jornada, para inspirar novos jovens, ensinar e dar esperança a outros. Em sua vida profissional e pessoal sempre incentivou as pessoas aos estudos e a empreender, sempre atencioso e de braços abertos. Muitos amigos e colegas disseram lindas palavras pelo tempo que conviveram, em diversas empresas, estados, associações e países, todos já estão com saudades. Ajudou a fundar a nossa ABTS, antes chamada de ABTG, figura presente em todas as reuniões, palestras e congressos. Sempre muito positivo e feliz, buscando a harmonia, paz; mesmo em mares tempestuosos. Sua infância foi dura, com desafios na saúde desde pequeno, desafios no trabalho, guerras quando criança, planos econômicos, mas sempre se esforçou, ajudava os outros e crescia ainda mais. Até na superação foi um exemplo”, descreve seu filho, Gerhard Ett.

Nascido nas Filipinas, de origem alemã e francesa, Volkmar chegou ao Brasil em 1948, aos 13 anos, sem falar português, mas fluente no inglês (sua primeira língua) e no alemão. Iniciou sua vida profissional como comprador da Walita.

Teve uma infância dura, mas nunca se abateu e ainda se fortaleceu; a seguir um relato de seu primo do México, Tomas Weber, cujos pais ajudaram sua família quando emigraram ao Brasil: “...Lembro-me do Volkmar me contar que, ao terminar a ll Guerra Mundial, o seu pai (para mim o Onkel Gerhard) reuniu a sua família, sua esposa (Tante Ursel) e seus 3 filhos, para discutir aonde poder emigrar, já que Europa estava em ruínas e a vida também. Aonde emigrar, aos EUA, a Austrália, América do Sul, aonde, nesse nosso mundo? Entre todos, decidiram que o melhor seria para a América do Sul.

“... Lembro-me que, no início, viviam na nossa casa (em Campo Belo, SP). Todos, especialmente os três meninos estavam magríssimos, esqualidos. Que pena nos dão essas lembranças. Outra lembrança minha é do meu pai trabalhando na Cia. Mattarazzo, quando ensinava química ao jovem Volkmar. Fazia isso com grande prazer; já que Volkmar aprendia rápido, prestava atenção, mostrava interesse ... e com uma excelente memória. Lembro-me de meu pai comentando: ‘Esse jovem deveria ir a universidade’! Mas, infelizmente, as condições econômicas imperantes naquela época, início dos anos de 1950, eram precárias, e estudos superiores eram apenas sonhos impossíveis’, contou Weber.

Autodidata, profundo conhecedor em vários campos, desde materiais e química, medicina, música e artes; sempre incentivou a educação e o empreendedorismo. Admirado e respeitado por todos. Os funcionários, que eram técnicos, hoje são Mestres e Doutores, executivos de sucesso, sempre incentivados por Volkmar; a esse respeito, disse a professora Dra. Elisabete Pessin, da USP/IPEN: “Sr. Volkmar, com sua visão empreendedora, facilitou que jovens atingissem patamares especiais na ciência do Brasil”.

Estande da Electrocell no Congresso Mundial de Hidrogênio (WHEC 18 - RIO). Visitas ilustres: Alvaro Toubes Prata, do MCTI, Victor Hugo Monjie, da Usina Sao Martinho, prof. Ronaldo Gonçalves, da FEI, e Gerhard Ett

Família reunida: à frente, Bardia Ett e Luiza Johanna Ett junto de Volkmar Ett; atrás, à esq., Arno Ett, e à dir., Gerhard Ett

Conversas descontraídas entre renomados pesquisadores: Prof. Dr. D’ALkaine, Prof. Dr. Fernando Galembeck, renomado especialista em nanomateriais, e Volkmar Ett (no centro)

O auxílio ao pai na Cascadura

Aprovado para estudar em Oxford, na Inglaterra, optou por declinar e ajudar seu pai, o Eng. Gerhard Ett (Formado em Eng. Mecânica / Elétrica por TU Darmstadt - Alemanha), e seu sócio, Sr. Leoni, fundadores da Cascadura S.A. Seu pai faleceu cedo, mas, juntamente com seu irmão, Rolf Rüdiger Ett, e o Sr. Leoni (ambos também já falecidos), tornaram a Cascadura o que ela é hoje: uma das empresas de tratamento de superfície mais tradicionais do Brasil e do mundo, tendo, já desde aquela época, diversas filiais no Brasil, na Alemanha e escritório nos Estados Unidos.

Foram setenta anos atuando e desenvolvendo processos de cromo duro, níquel químico, pintura, aspersão térmica, novos materiais, aplicações especiais na indústria e na pesquisa.

Na Cascadura, era responsável pela tecnologia, desenvolvimento de processos e inovação, diplomou-se CEF, pela American Electroplaters & Surface Finishers Society, nos Estados Unidos (1994); recebeu inúmeras condecorações dos governos dos EUA, Alemanha, França (honra de Estado); na Inglaterra, recebeu o título Fellow, do Institut of Materials Finishing. No Brasil, foi indicado três vezes ao prêmio máximo dado pela presidência da república, e também foi condecorado como Doutor Honoris Causa. Recebeu a “Medalha Anchieta” da cidade de São Paulo.

Sua sabedoria encantava, era impressionante em muitas áreas, e com profundidade, “a cada dia aprendia ainda mais”, ressalta Gerhard. Desde a química, materiais, medicina, música, artes... ...e muitas outras.

Contribuições em diversas áreas

Na área da saúde, outro grande destaque, participou no desenvolvimento da primeira prótese de fêmur na UNICAMP; no revestimento de próteses dentária, na USP. Também teve participação no projeto do foguete Ariane; e ativa atuação no programa pró-alcool, do governo Brasileiro, atuando no desenvolvimento de anodização do carburador de alumínio e no revestimento com níquel; também contribuiu com o programa de incentivo ao uso de etanol, do Brigadeiro Ozires Silva, nos anos 2000, com o uso do etanol para produção de hidrogênio; além de auxiliar no desenvolvimento da panela anodizada de teflon, entre outras dezenas de projetos e patentes.

Aos 65 anos, voltou a empreender, foi sócio e diretor da Electrocell; sempre à frente de seu tempo, desenvolveu tecnologia de células a combustível e do hidrogênio. Esses equipamentos se encontram nos mais importantes laboratórios do Brasil e também se fazem presentes no exterior. A célula tipo PEM, de 50 kW, produzida para a Eletropaulo (2004), ainda hoje, é a maior produzida no hemisfério Sul; além da propulsão do ‘ônibus a hidrogênio’, da COPPE-RJ (2010), desenvolveu novos tipos de bateria para veículos elétricos e também sistemas híbridos e complementares para instalações fotovoltaicas e eólicas – ESS 722kWh, em baterias de íon de lítio. Tais desenvolvimentos contribuíram não só para o estudo de nanotecnologia, da energia, mas também em novas aplicações em desinfecção hospitalar, combate a pragas na agricultura e tratamento de efluentes.

Na empresa, juntamente com sua equipe, acumulou ainda mais prêmios, como da FIESP, CNI (concorreram 65 mil projetos), FGV, e outros internacionais, acumulou dezenas de prêmios.

À esquerda, Gilberto Janólio, Luiza Ett, Volkmar Ett, Bardia Ett, Luis Tupinambá - Premio FINEP 2009

Líder de um setor

Volkmar foi sócio e professor da ABMM (Primeiro curso da ABTS), diretor da Associação Brasileira de Tratamentos de Superfícies (ABTS), presidente da International Union for Surface Finishing (IUSF), Confederação Internacional de Tratamentos de Superfície (Interfinish). Membro da ABS, ABRACO, Sociedade Filarmônica Lyra, Sociedade Hans Staden, entre muitas outras associações.

“Sua fé, seu ponto forte, era contagiante, e atraia a atenção em festas de família e amigos, quando todos paravam para ouvi-lo...”, conta Gerhard, que relata o que disse uma amigo sobre o seu pai: “Deixou eternizadas suas marcas de Amor, de Família, de respeito, de caráter impecável, de coração tão afetuoso e bondade de ser humano, só lindas lembranças e momentos de muita ternura”.

“Muitos amigos se passaram, a todos ajudava e lhes estendia a mão, mesmo aos que o magoaram, os perdoou, aos que não sabiam, ensinou, aos que não tinham mais esperanças, lhes mostrou a luz. Sua vida foi de luta, de perseverança. Um exemplo de pessoa e de vida. As homenagens não param de chegar, assim como a sua luz, que iluminará a todos para sempre”, finaliza Gerhard.