Com coragem e otimismo de quem tem mais de 40 anos de experiência no setor automotivo e sabe quais caminhos percorrer, Luiz Carlos Moraes conta as estratégias que comporão as ações da Anfavea durante o seu mandato e versa sobre os desafios do setor que está em plena transformação
teza o maior da minha carreira”, disse em seu discurso de posse.O executivo construiu sua trajetória em uma sólida carreira de 40 anos de atuação na Mercedes-Benz do Brasil, onde hoje é responsável pelas relações governamentais e comunicação corporativa no Brasil. Também já atuou pela empresa no exterior. Na França realizou uma de suas duas pós-graduações; a outra fez na FGV. Também possui MBA pelo Ibemec.
Não à toa, o profissional inaugura nossa seção de entrevistas. O setor automotivo é um dos pilares da indústria brasileira e reflete diretamente a crise econômica pela qual passa o país, além de ser um dos maiores consumidores de tratamentos de superfícies. “A evolução dos tratamentos de superfície está inserida no contexto de qualificação dos produtos feitos pela indústria automobilística nacional”, enfatiza o novo presidente da Anfavea. Ademais, passa por próprias transformações internas, com o tradicional modelo de consumo de automóveis tornando-se obsoleto. Assim, Moraes vem falar sobre suas expectativas e metas com relação ao seu mandato, que vai até 2022; sobre o Rota 2030, que ajudou a configurar; desenvolve como pretende acompanhar mudanças tão estruturais e, mesmo, quais estratégias para incentivar competitividade e perenidade da indústria para ultrapassar a crise; conforme você lerá a seguir.
De maneira geral, quais são as metas da sua gestão? E a principal?
Luiz Carlos Moraes: São muitos desafios, mas destaco três em especial. O principal é melhorar nossa competitividade. O ‘Rota 2030’ foi um passo importante nesse sentido, e agora todos os fabricantes têm previsibilidade para fazer sua lição de casa. Ao mesmo tempo, os governos precisam fazer sua parte nesse processo, reduzindo barreiras tributárias, burocráticas e de infraestrutura no país. O segundo desafio é estabelecer um diálogo produtivo com o novo governo federal, que tem uma agenda econômica bastante distinta em relação a governos anteriores. Essa interlocução está cada vez melhor e deve ser intensificada ao longo deste ano. O terceiro é o desafio global de equacionar o papel da indústria automotiva dentro de um contexto de novos modais de mobilidade e de megatendências como eletrificação, automação, conectividade e compartilhamento. O Brasil pode oferecer algumas soluções próprias para esse desafio, sobretudo no campo dos biocombustíveis, mas em algum momento acompanhará essas tendências globais.
Em seu discurso de posse, disse que o setor irá se transformar completamente nos próximos 10 anos, discorrendo sobre os principais temas dessas mudanças. Como suas metas estão inseridas dentro dessa nova realidade?
Luiz Carlos Moraes: A demanda pela posse do carro tende a cair, mas não o seu uso, para comprovar isso estão aí os aplicativos como Uber e afins, além dos de carona e de compartilhamento. Um dos novos desafios da Anfavea é como fazer a mudança do clássico modelo de negócio de apenas produzir e vender, para englobar o vigoroso e rentável mercado de serviços de mobilidade que não necessariamente implicam na posse do veículo. O conceito de propriedade de apenas um veículo abre espaço para o consumidor usar ou compartilhar múltiplos veículos, e isso altera nosso tradicional modelo de negócio.
Qual a sua perspectiva para a indústria frente ao mercado econômico? Como espera que a economia se comporte durante 2019 e qual a meta da Anfavea para este ano?
Luiz Carlos Moraes: Na nossa previsão de início de ano, a expectativa era de um primeiro semestre de expectativas, e um segundo semestre mais robusto em caso de aprovação da Reforma da Previdência. Mantemos essa previsão agora. Só o que está abaixo das expectativas é o resultado das exportações, fortemente impactado pela crise Argentina, nosso maior parceiro comercial.
A indústria automotiva impulsiona diversos outros setores da economia, como a indústria de tratamento de superfície, por exemplo. Como ambas podem trabalhar conjuntamente para elevar a produção automotiva como um todo, alavancando outros setores e contribuindo para a melhora na economia brasileira, já que o impacto é direto?
Luiz Carlos Moraes: A evolução dos tratamentos de superfície está inserida no contexto de qualificação dos produtos feitos pela indústria automobilística nacional. Não se pode pedir competitividade no âmbito do poder público sem fazer nossa lição de casa. Com o programa Rota 2030, as montadoras tendem a produzir carros cada vez mais alinhados ao que de melhor existe nos mercados mais desenvolvidos, e, para isso, é preciso o engajamento de todos os fornecedores e colaboradores envolvidos na cadeia produtiva.
Como enxerga o impacto do Rota 2030 para a indústria automotiva e para a economia no geral? Pode falar sobre algumas projeções que a Anfavea auferiu?
Luiz Carlos Moraes: O impacto do programa é garantir previsibilidade à indústria, inclusive à de autopeças. Agora sabemos como e quando precisamos investir em itens de segurança e eficiência energética. Além disso, há incentivos para empresas que investirem valores relevantes em pesquisa e desenvolvimento. Os impactos certamente serão de médio e longo prazo.
Com tantas mudanças no setor automotivo, como pessoas trocando a posse de carro pelo uso de Uber, ou sobre a proximidade de que os carros autônomos ganhem as ruas, como o sr. acredita que o setor será impactado?
Luiz Carlos Moraes: Essa mudança radical no modelo de negócio gera uma série de oportunidades na área de serviços de mobilidade. Em breve, a disputa não será mais por volumes de veículos vendidos, mas pela quantidade de quilômetros rodados em vários serviços de mobilidade que já surgiram ou vão surgir.
Além das inovações mais fáceis de observar como a popularização de carros elétricos ou a conectividade, em quais outras áreas acha que o setor pode (ou deve) inovar?
Luiz Carlos Moraes: Os hábitos das novas gerações de consumidores de carro mudaram radicalmente, o modelo de negócio associado ao veículo está mudando, novos players estão oferecendo serviços de alta rentabilidade que dependem do produto que nós fabricamos, e a indústria automotiva já percebeu isso e começa a se adequar.
Como incentivar o consumidor do futuro e no que consiste o novo modelo de negócio da indústria?
Luiz Carlos Moraes: O atual cenário de rápidas e profundas mudanças no nosso setor, exige uma Anfavea muito mais propositiva. Vamos estar mais antenados às novas tendências da indústria e da mobilidade, mais dispostos a puxar os debates que se fazem necessários. O papel da Anfavea é de representar esta nova realidade e induzir as mudanças e adaptações necessárias, incluindo a rápida criação de um Brasil competitivo, com olhos para o futuro. Lembre-se que, se tudo funcionar, chegaremos em 2022 com os mesmos níveis de produção e vendas que tínhamos em 2012: 3,8 milhões de unidades. Estamos atrasados 10 anos. Queremos criar um ambiente de crescimento sustentável, de investimentos massivos no Brasil, de geração de empregos e de competitividade de forma a nunca mais vermos nossa indústria regredir 10 anos, enquanto observamos passivamente nossos competidores e mercados globais crescerem. A Anfavea está disposta a colaborar, a propor medidas, a cobrar e a debater com toda a sociedade sobre o futuro dessa indústria em nosso país e no mundo.
O que o sr. pode trazer para o mercado brasileiro de sua experiência no exterior que ainda não aplicamos?
Luiz Carlos Moraes: As montadoras que disputam mercado no Brasil são as mesmas que estão nos mercados mais avançados do planeta. Só precisamos no Brasil de um ambiente que favoreça o fluxo comercial, com mais importações e exportações. Para isso, precisamos fazer as