icone Linkedinicone Facebookicone Instagramicone youtube

Desenvolvimentos Sustentáveis em Tintas


Orientações TécnicasPintura 18 de fevereiro de 2022 | Por: Nilo Martire Neto

 

Eritram Coatings Consultancy
 

A indústria de revestimentos vem há muitos anos dando foco em produtos mais avançados e que causem menor impacto ao planeta fundamentando-se nos três pilares da sustentabilidade, ou seja, social; ecológico e econômico. 

Procuram entre outras estratégias, seguir e ultrapassar as normas existentes e também atingir aos requisitos específicos de seus clientes obtendo desta forma, alguma vantagem competitiva sobre os demais concorrentes.

Os trabalhos mais exitosos trouxeram ao mercado produtos com melhor desempenho aplicativo e estético, com reduções de energia e emissões, eliminando solventes danosos ao meio ambiente e menor conteúdo de voláteis orgânicos. Há também desenvolvimentos que reduzem etapas de processo, retrabalhos e descartes, incluindo-se embalagens, entre outros avanços.   

Na maioria dos casos, entretanto, a questão do menor custo final de um revestimento é tomado como uma das principais referências na decisão do uso.

Tem-se, no entanto, na maioria dos casos, levar-se em consideração que muitos destes novos produtos, agregam nas suas formulações matérias primas de custo maior, até por questões de escala, além dos gastos em infraestrutura, pesquisas e desenvolvimento.

Assim sendo, um dos maiores desafios é chegar-se ao custo final da tinta aplicada, se possível igual o menor ao de uso corrente.

Isto não quer dizer que a sociedade não está disposta a pagar por novos produtos de melhor desempenho, duráveis e ecológicos, mas estes deverão trazer algum diferencial positivo ao produto manufaturado. Este é também um dos objetivos das chamadas tintas funcionais e inteligentes que agregam ao revestimento uma outra finalidade.     

Os desafios na redução do consumo de água, energia e custos da mão de obra, incineração de rejeitos e tratamento dos voláteis, retrabalhos; atendimento às reclamações e trocas, atendimento à legislação, perda de competitividade, etc., acabam muitas das vezes por contribuir para a adoção de uma tecnologia emergente.

Com base nos meus quarenta anos de trabalhos em pesquisas e desenvolvimento de tintas, em linhas gerais, dependendo da tecnologia empregada, eu estimo no ano de 2016 que cerca de 50% da pegada ecológica relacionada ao revestimento orgânico está no processo de aplicação e uso do produto. Os outros cerca de 20% estão na fabricação destes insumos e os outros 30% restantes, na escolha correta da matéria prima utilizada.

Pelos dados acima, chega-se conclusão que o fabricante de tinta não pode agir isoladamente na busca de produtos mais ecológicos e eficientes. Terá que contar com o apoio e trabalhos em parceria com fabricantes de insumos, equipamentos, sistemas de produção e pintura, além, está claro, do usuário final, integrando assim os ciclos de nascimento, fabricação, transporte, uso e descarte final do bem beneficiado.

Reforço assim que a indústria deverá exaustivamente buscar desde o inicio utilizar ingredientes que não contenham materiais que agridam ao meio ambiente ou de origem duvidosa. Evitar deixar um passivo para as gerações futuras focados em produtos que possam ser reutilizados, ou reciclados ou descartadas de forma segura.

Podemos citar os casos de sucesso já bem conhecidos como os da indústria automotiva e de móveis domésticos, os quais mostraram possibilidades de reuso dos rejeitos, transformando- os em matérias primas importantes em processos complementares, obtendo inclusive maior valor agregado aos anteriormente utilizados.  

A história confirma também, que muitos dos desenvolvimentos de sucesso existentes, surgiram ao acaso quando as pesquisas estavam sendo dirigidas para uma determinada finalidade e constatou-se melhor uso em outro.

No entanto se faz necessário o trabalho estruturado e de certo modo com custos de infraestrutura significativos a fim de poder atingir um novo patamar tecnológico ao atual quadro, o qual eu acredito já estar por necessitar.

Também como sabemos, os processos e exigências estão cada vez mais padronizados e aceitos pela maioria, eliminando em parte as iniciativas de se desenvolver algo diferente. Ideias, inovações e invenções em nichos, conquistados por pequenos laboratórios ou empresas regionais, tendem a não ser percebidas e consequentemente ignoradas. Isto, entretanto não ocorre nos desenvolvimentos dos softwares para a informática.  

Reforço que os desenvolvimentos em quaisquer ambientes ou condições que se apresente, deverão envolver como já dito, toda a cadeia de fornecimento, atendendo às exigências globais, pois o conceito de produto sustentável deve abranger o meio ambiente como um todo, não podendo deixar, como afirmado acima, para o futuro algo danoso e permanente.

As empresas, independente do tamanho ou posição geográfica deverão considerar todos os fatores envolvendo as comunidades, internas e externas à corporação; os interesses de funcionários acionistas; imagem e respeitabilidade da corporação, além de incentivar a motivação de todos os envolvidos.

Como tendência mundial há algumas décadas, no sentido de adequar custos, houve uma diminuição significativa dos laboratórios de pesquisas em nível global, concentrando-se agora em grandes centros de P&D. Isto, em minha opinião inibe em parte o descoberta de novos produtos quando se leva em consideração o conceito do “pensar fora da caixa”, ou seja, a imaginação e criatividade dos pesquisadores no seu pensar abstrato e atividade individual, dentro de suas alcovas, conforme eu algumas vezes me referia às pequenas bancadas de laboratório ou salas de leitura.

O químico de tintas, também conhecido como formulador, deve compor uma dezena de produtos e processos resultando em um produto final na forma de pó ou líquido pelo qual seu cliente compra como sendo um revestimento delgado aplicado sobre uma peça, dando à mesma uma serie de propriedades desejadas. Complicado, não é? 

Na maioria das vezes ele executa avaliações subjetivas e altamente criativas, para certificar-se que a sua criação vai atender aos requisitos exigidos pelo seu cliente.  

O formulador deve também ter como foco o conceito de inovar e não inventar apenas. A primeira é convertida em negócios enquanto que a segunda, muitas vezes fica apenas na curiosidade e nos arquivos.

Deve além de estar atento às novas matérias primas, processos e tendências dentro do seu segmento, testar exaustivamente novos materiais e processos.

Modificar algo que funciona é um grande desafio e risco, mas como uma das suas atribuições, um bom formulador deve sempre procurar por melhorias aos produtos existentes, mesmo para aqueles de grande sucesso, pois seu concorrente provavelmente estará fazendo isto. E creia-me, quando o mesmo encontrar algo superior, a defasagem criada será enorme, colocando em risco o negócio até aquele momento sendo considerado como uma estrela de vendas.   

O químico tem também que ser um vendedor dos seus desenvolvimentos, interna e externamente e ter um bom dialogo com o cliente final, pois é de suma importância ter seu feed back para a continuidade e fortalecimento do negócio.

Ser perseverante, criterioso, detalhista, estudioso, não tendo medo de colocar a mão à massa e limitar-se aos exageros e encantos da informática, pois esta não cria e não formula. Sumarizando, o mesmo deve ser um profissional em constante aprendizado, focado no resultado, hardworker e tendo em mente que o saber é poder.

 

Nota: Este artigo foi escrito e editado em Abril de 2016.

 

Notícias relacionadas

Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.