icone Linkedinicone Facebookicone Instagramicone youtube

Da Assistência à Liderança: A Jornada de Sucesso Empresarial de Wady Millen Junior


TS 239Grandes ProfissionaisTS online 05 de março de 2024 | Por: Portal TS
Da Assistência à Liderança: A Jornada de Sucesso Empresarial de Wady Millen Junior

As histórias maravilhosas de Wady Millen Junior, de assistente técnico a empresário bem-sucedido, com seus quase 60 anos de experiência, e 'causos' em tratamentos de superfície.

Não se engane, o título deste texto não fala de idade, fala de respeito! Respeito por um profissional da galvanoplastia que merece todos os louros que recebeu, e ainda recebe, isso por sua expertise e por sua conduta na vida. Considerado o 'Papa da Galvanoplastia', sua dedicação e amor ao trabalho extrapolou fronteiras executivas, chegando à docência e ao voluntariado. Esta é a história de um homem simples, que escolheu a química não por opção, mas pela necessidade.

Neto de um mascate turco, seu pai faleceu jovem, aos 49 anos. Nessa época, Wady estava no científico (atual ensino médio), no Instituto de Educação Caetano de Campos, em São Paulo, SP, contudo, era necessário trabalhar para ajudar em casa. Assim, foi fazer o curso técnico em Química, no Liceu Eduardo Prado. “Não foi por escolha, foi porque precisava. Foi bastante difícil, com bolsa de estudos. Não podia faltar, não ter nota baixa e nem pegar recuperação. Eu ia para o Liceu pela manhã, para as aulas, e, à tarde, eu era office-boy no Instituto Hans Staden. Eram quatro anos e o último era dividido por seis meses de aula e seis de estágio”, conta.

Sr. Wady (a pronúncia correta é Uadí), no início daquele 4° ano, havia arrumado estágio na Faculdade de Farmácia “Eles chamavam de estágio, mas era para lavar copos e fazer análises muito simples; não ganhava nada. Eu precisava de um emprego e o pai de uma amiga trabalhava em uma empresa que precisava de um químico, era a Indústria Metalúrgica Tergal. E lá fui eu conversar com o químico responsável: Raul Fernando Bopp (profissional que foi bastante atuante na ABTS). Quando eu cheguei perguntei o que eles faziam, ele me respondeu: – ‘Galvanoplastia, você sabe o que é isso?’ – e eu respondi que tinha ouvido falar... Mentira! Eu não tinha a mínima ideia (rs). Pelo nome da empresa achava ser algo relacionado a tecidos...”.

Bopp o levou para conhecer a empresa, posteriormente, o apresentando ao Dr. Ernani A. Fonseca, dono da empresa e um dos fundadores da ABTS (1968), foi ele quem o contratou. O Bopp passou à área de Produção e havia um outro químico, Paulo Tamburrino, responsável pelo cromo duro. “Esse cara me deu alguns, digamos, ‘trotes’ de iniciante. Vou contar. Ele deixou um litro de ácido sulfúrico P.A. e me mandou filtrar com papel, só que o papel dissolvia e continuava mais sujo. Três quatro horas depois, eu ainda estava lá... (rs)”.

Wady conta que ficou impressionado pela inteligência e dedicação de Tamburrino. “Ele lia muito. Quando chegava lia o Estadão inteiro, e à tarde lia o livro do Eugenio Bertorelle, revistas ‘Plating’ e ‘Metal Finishing’. Aprendi demais com ele e com o Dr. Ernani”. Quando iniciou sua carreira, Wady foi para o laboratório. “Naquela época, a Tergal era a maior fornecedora da indústria automobilística – Willys, que depois virou a Ford –, VW. Nós tínhamos a divisão de peças de galvano; a de tambores rotativos de níquel; uma divisão de zinco – rotativo e parado -; de anodização; e a divisão de cromo duro, do Paulo, que me explicava muita coisa, assim como o Dr. Ernani. Foi quando aconteceu a minha primeira ‘gafe’ séria. O Dr. Ernani A. Fonseca me mandou fazer um tratamento em um banho de níquel rotativo; o tratamento consistia em colocar 2 gramas por litro de permanganato de potássio. O volume do tambor de níquel era de 800 litros, e depois colocava-se o carvão ativado, para adsorver as contaminações orgânicas. Coloquei o permanganato e depois eram 10 gramas por litro de carvão ativado – um pó muito fino –, eu disse para o encarregado jogar e ele não teve dúvida: pegou e jogou; a galvano parou! Eram 8 kg de carvão ativado que se espalhou pela fábrica. Foi uma bela gafe!”, conta rindo. A Tergal foi uma grande escola. “Aprendi muito.

Por exemplo, naquela época, não havia cobre ácido. As peças eram desengraxadas, passavam por um cobre strike (banho de cobre alcalino com concentração de cobre muito baixa); depois iam para um banho de cobre cianídrico e para o polimento. Também havia o sistema PR, (reversão de corrente no cobre alcalino), eram lustradas e depois iam para o banho de níquel, depois eram lustradas novamente e iam para o banho de cromo. Tudo manual! Posteriormente, instalamos o cobre ácido após o alcalino, da Udylite, maior fornecedora de produtos químicos na época (por volta de 1967)”. O Wady ficou lá por quase dois anos e, entre outras lembranças das quais têm orgulho, uma é muito especial: “Fui o segundo químico do Brasil a usar NÍQUEL semi-brilhante, de uma empresa que estava começando no Brasil, a Harshaw Química. Seu ‘big boss’ era o Gaston Zapata, um dos fundadores da ABTS. Eles queriam fornecer para a Tergal, que era uma das maiores. Uma vez passei a noite lá, fazendo testes, com a Célula de Hull. Estávamos, o Dr. Ernani A. Fonseca, o Gaston, Larius Matos, Sr. Stacys, gerente técnico da Udylite, e o Sr. Rubens Rodrigues dos Santos, gerente da CanCo, que estava começando no Brasil. Eles tinham algumas divisões: a Dixie copos descartáveis e uma empresa de produtos químicos, a M&T Chemicals. Ficamos trabalhando a noite toda (eu fazendo Células de Hull) para resolver um sério problema. A Harshaw conseguiu vender, e implantar o processo de níquel semibrilhante”.

Esse foi o primeiro contato com a CanCo, empresa que faria um importante papel na vida profissional do Sr. Wady, como a Udylite, empresa que o contratou logo após a sua saída da Tergal.

Logo após a sua dispensa, o Sr. Wady foi procurar emprego na Udylite porque conhecia o Stacys. Lá, tornou-se assistente técnico. Trabalhou primeiro em laboratório, “com a Sra. Janete Catelã, que tinha muita experiência”, com o Stacys, gerente técnico; e também com o Sr. Rudolph Spier, “uma das duas pessoas que, praticamente, trouxeram a galvanoplastia para o Brasil – ele e o Sr. José Groothedde que trouxeram as tecnologias mais inovadoras para época”.

Wady conta que passou por momentos difíceis, pois a empresa se localizava na Marginal Pinheiros em um local de difícil acesso. “Era um local a ser desbravado. A Udylite mandava um ônibus ao Largo Treze para levar as pessoas até a fábrica. Algumas vezes eu perdia esse ônibus. Aí, eu ia até a Ponte do Socorro, esperando passar alguém de lá para pegar carona. E não era só comigo, tinha bastante gente (rs)”.

Como assistente técnico, tinha um roteiro para visitar clientes, de ônibus. “A sorte era quando a empresa ficava em Santo Amaro (rs)”. Ele conta que muitos clientes não tinham laboratório; “quando tinham a gente fazia os testes no próprio local, mas quando não tinham, pegava-se a amostra do cliente – em litros – e levava para a Udylite, ‘de ônibus’ (rs)”. Nessa época (início da década de 1970), o Sr. Wady montou sua primeira empresa, a Newatel, de zicagem, com um banho de zinco parado e um rotativo. “Quem trabalhava carregando peça era eu e o Sr. Teófilo”. Newatel é um acrônimo de Nelson, Wady, Teófilo e Enis, sócios. “Colocamos muito dinheiro e, depois de um ano, veio uma cobrança de ICMS, que a gente contribuía, mas o contador, um dos sócios, não recolhia. Aí eu parei e fechamos a empresa. Foi o meu primeiro negócio, e, em paralelo, continuava como assistente técnico da Udylite”.

A vida melhora

Com uma boa memória, ele lembra de seu salário na época: Cr$ 375,00 Cruzeiros, algo relevante para o que descreve a seguir. “Eu visitava uma empresa que chamava King Bijouterias, era a maior fabricante de bijouterias do Brasil. O químico lá era o Aldo Rinaldi, de quem acabei ficando muito amigo; um dia ele me falou que ia sair, porque eles não pagavam na data, e precisava indicar alguém. – ‘Você topa?’ –, ele me perguntou. E eu perguntei qual era o salário. A resposta: Cr$ 450,00 Cruzeiros. Nessa época eu já tinha comprado um carro e estava bem.”

“Era um Perua DKV que andava quando ela queria e parava quando tinha vontade (rs). Aí fui para King para ficar pouco tempo, por causa do histórico de pagamento. Eles trabalhavam de segunda à sexta e chamavam para fazer hora extra no sábado, e químico não ganhava a hora extra, mas eles davam um adiantamento. Eu recebia no próprio sábado. Solteiro, com carro... Eu queimava o dinheiro e chegava no fim de mês sem nada para receber (rs)”.

Em paralelo, procurava emprego “nos classificados do Estadão”, diz. E após sete meses e mais aprendizados, como banho de ouro, por exemplo, viu um anúncio da Metalgráfica CanCo, que ele já havia conhecido na Tergal. Foi conversar com o Sr. Rubens, que identificou nele o perfil certo. Em sua divisão química, a CanCo trabalhava com o Sr. Rubens e também com a Sra. Ruth Muller, fundadora da ABTS (única mulher fundadora). O salário iria praticamente dobrar. “– ‘Você vai ser o nosso primeiro homem de rua’–, me disse o Sr. Rubens; eles tinham um único cliente, Lustres Montalto, tinha sido a Nota n° 1. Achei que estava contratado, mas passaram-se duas, três semanas, e não me chamaram. Danou-se, pensei, lá vou procurar emprego de novo. Mas, após três meses, eles me chamaram”. Quando ficou esclarecido o ocorrido, Sr. Wady descobriu que eles tinham preferido um profissional com cara de mais velho, para inspirar confiança, mas que ele não havia ‘emplacado’, foi quando descobriu que ele também teria de fazer vendas, foi convencido e contratado. A empresa fornecia uma Kombi; “era um caos, o para-choque era meu tornozelo”, diz rindo. O Sr. Rubens foi tão significativo na vida de Wady que foi padrinho de seu primeiro casamento. 007 e a gravata

Nessa época, o Sr. Wady comprou sua pasta executiva, estilo 007, para ir visitar a Montalto. Ao sair de lá, viu uma metalúrgica e parou para conhecer. “Me apresentei e fui direcionado a falar com o comprador, que disse que eles usavam os produtos da Orwec, sem conversa! Sai de lá e fui pedir minhas contas para o Sr. Rubens, que me disse: – ‘Isso vai acontecer muitas vezes, se acostume’. Ele também me fez uma promessa: no dia em que a empresa crescesse, ele teria um departamento técnico e eu iria para lá, deixando de fazer vendas. Vale contar que passei um pequeno vexame com a pasta; fui visitar um cliente e fechei a pasta com a metade da minha gravata dentro (rs)”. Ele lembra de sua primeira venda, para uma fábrica de guarda-chuvas, a Novac: “A divisão de produtos químicos, M&T, era muito forte em cromo. A maior montagem que fiz foi na Volkswagen. Implantaram o ‘cromo duplex’, uma novidade cuja função era para aumentar a resistência à corrosão”.

Wady Millen Junior ministrando aula no II Curso Básico de Galvanoplastia para Encarregados e Supervisores de Banhos, em 02/10/1976

 

Lá se vai a vida de empregado

A CanCo passou a se chamar Dixie (antiga divisão de copos), continuou também com a M&T Chemicals, e o Sr. Wady realmente virou técnico, como prometido. “Achei que precisava estudar, para ter uma formação melhor. Fui fazer o curso de Administração de Empresas, e o fiz em uma faculdade adventista, a Luzwell. Eu queria subir na vida”, conta.

Na época, o Sr. Rubens também trouxe um especialista ao Brasil para treinar o Sr. Wady, o Sr. Vedel Guersey. “Eu tinha inglês de escola e ele não falava português, e tínhamos de visitar clientes, você imagina o que foi (rs). Aprendi a falar inglês assim, na marra; tecnicamente também aprendi muito com ele”.

Em muitas ocasiões, o Sr. Wady foi se aperfeiçoar fora do país, principalmente Estados Unidos e Itália. Entre as diferenças que constatou entre os mercados nacionais e os do exterior, foi a de que, nos EUA, os profissionais são muito especializados, enquanto aqui conhecem de tudo. “Prefiro o jeito brasileiro, pois, ao se visitar um cliente, tem-se uma visão muito mais ampla de tudo”, destaca.

2006 - Turma do 100º Curso de Tratamentos de Superfície, Evento Especial no EBRATS 2006, recorde de 91 inscritos. Wady Millen Junior (na frente, à esq.) com a Faixa da Homenagem ‘Professor 100’

 

Wady Millen Junior recebendo prêmio de ‘Professor 100’. Ministrou aulas de 1974, 1a edição, até 142a, em 2016

Wady galgou os cargos e passou à gerência geral da divisão químicos da CanCo. O Sr. Airi Zanini foi sua primeira contratação; atualmente, diretor geral da MacDermid Enthone. “A gente precisava de um técnico. Assim, falei para o Rubens que eu tinha um técnico muito bom que havia conhecido na Forin, e o contratamos, era o Airi. A minha amizade com ele é muito grande, é meu amigão mesmo!”. O Sr. Wady fez grandes amigos ao longo de sua jornada. Outro exemplo é Milton Miranda, que, junto com ele, implantou o 1° Curso de Tratamentos de Superfície na ABTS. “Entrei na ABTS em 1969 e em 1974 fui eleito para o Conselho Diretor junto com ele. Éramos dois jovens, sonhadores, misturados com Ludwig Rudolph Spier, Dr. Ernani A. Fonseca, Manfredo Kostmann, Adolphe Braunsstein, Célio Hugenneyer e mais personalidades do setor. Eu tinha muita dificuldade em passar algumas informações aos encarregados, pois, naquela época, eles só tinham o curso primário; conversava sobre isso com o Milton. Daí surgiu a ideia do curso, e o primeiro foi para os encarregados de galvanoplastia. Ideia minha e do Milton”, diz. Desse primeiro curso em diante, já foram mais de cem. Inclusive, a mais recente participação de Wady, como professor foi no 142° Curso, realizado em 2016.

No último ano da faculdade do Sr. Wady, a Dixie estava passando por um momento delicado. Foi quando o Sr. Rubens o chamou para fazer o R.H. da empresa. “Eu faço com uma condição, na hora que melhorar eu volto para produtos químicos. De manhã eu fazia o R.H. e à tarde, produtos químicos”. A divisão de produtos químicos se muda para Diadema, na Grande São Paulo, e Wady continua como gerente geral de produtos químicos da Dixie. A M&T foi vendida para um grupo francês que não se interessou pelo Brasil. “O Sr. Rubens me chamou, disse o que tinha acontecido e pontuou: – ‘Nós vamos mandar todos embora e iremos fechar a divisão de produtos químicos’. Imediatamente falei: – ‘Não vai fechar!’. – Eu conhecia um tributarista, Dr. Luiz Carlos Andrezani, com quem fui conversar e disse que queria comprar. Ele me perguntou se eu era louco e eu respondi: ‘– Sim, eu sou!’ (rs)”.

Jantar de Confraternização da ABTG/SIGESP (antigo nome da ABTS) realizado na Mansão França, em 04 de dezembro de 1974. Na imagem, Wady Millen Junior recebe uma lembrança das mãos do Dr. Ernani A. Fonseca, o primeiro presidente da ABTS. Ao fundo da imagem da esq. para a dir.: Herbert Lichtenfeld, Rubens Rodrigues dos Santos e Mozes Manfredo Kostmann.

Da esq. para a dir.: Hans Rieper, diretor cultural da ABTS, Wady Millen Junior, vice-presidente e Rolf Ett, presidindo palestra ABTG, em 1982.

Outros gerentes me acompanharam na nova empresa, o Sr. Rubens, Valter Lomenso e Carlos Alberto, e, com a aquisição, nós fundamos a Tecpro, que significa: Tecnologia, Produtos e Processo. “Mas ficava feio escrever Tecpropro (rs), aí cortamos o último. É a minha história. Eu já fazia parte da ABTS, já era conselheiro. Também já tinha um bom nome no mercado. Assim, começa a minha vida na Tecpro como empresário.” Novos desafios A experiência como empresário ainda era nula; quase tudo foi para a Dixie, menos o nome e o CNPJ. “Novamente, o Sr. Fábio Montalto (Lustres Montalto), lá da Nota n° 1 da CanCo, falou: ‘– A nota n° 1 é minha!’. E foi mesmo! (rs)”.

Ele conta que a Tecpro ficou o estoque e contas a pagar. Eram o Sr. Wady e os três sócios, como citado acima. “Nós não tínhamos capital de giro. Nessa época, já distribuíamos níquel da Inco Co (International Nickel Company), que não era produzido no Brasil. Era supercomplicada a importação e tínhamos seis meses para pagar, de acordo com a lei. Chegava e era vendido imediatamente. Eu havia recebido um caixa que foi para a Dixie, mas eu precisava pagar seis meses depois. Dois dias antes do vencimento, teve uma alta valorização do dólar.” “O que era 2:1 virou 5:1 e eu tinha de pagar! Aí fomos negociar, mas não tinha capital de giro! Conseguíamos pagar os funcionários, mas era tudo com a corda no pescoço. Eu tinha lucro até pagar as despesas financeiras”, relata.

A insônia veio, mas também uma ideia, um empréstimo junto ao BNDES, superdifícil na época. Assim, ele pediu a intercessão de Roberto Della Manna, da FIESP, que indicou com quem falar. E assim foi. “Nas reuniões de sócio da empresa, cada um falava sobre a sua área, como se fossemos empregados uns dos outros. Essa dinâmica era muito interessante e permitia maior entendimento. Assim, pedi os documentos e fui lá no BNDES. Eles disseram que precisavam de uma garantia real: duplicatas, a 150% do valor. Eu tinha clientes muito fortes – Cofap, General Electric –, só top do top. E as duplicatas como garantia tinham de ficar no Banespa da Avenida Paulista. Imagina que era por office-boy – naquela época, o dinheiro entrava na conta apenas três dias depois. E eu não tinha o que fazer, precisava aceitar. O Dilson Funaro era o Ministro da Fazenda do Governo José Sarney. Bom, consegui sair do buraco. Mas um dia, fui no Banespa e disse que não iria mais dar duplicata em garantia. Não aceitaram, mas eu troquei as duplicatas por uma aplicação no banco e consegui; e fui trabalhar junto com o Banco Nacional, bem forte. Todo o meu dinheiro estava lá. O da Tecpro e o da ABTS, pois eu era o tesoureiro”. Nesse período sobreveio uma bomba: “O Banco Nacional estourou! Era a manchete do Estadão, em um sábado de manhã. Até eu ouvir, à noite, que o banco Nacional havia sido encampado pelo Unibanco... ...Posso dizer que a situação foi responsável por um stent que pus no coração!”, hoje já são três.

Brasil sendo Brasil

Uma grande crise econômica assolou o país. “Eram mais de 80% de inflação em um mês. Tínhamos uma nova lista de preços a cada dois dias. Eu dizia: ‘Quero ser um empresário pobre de uma empresa rica’, porque eu via empresários ricos de umas empresas pobres. Eu não tinha nada, era tudo da empresa. Nessa época de inflação, eu lotava o galpão, comprava à vista, mas o caminhão precisava chegar até as 11 horas, se chegasse depois o pagamento ficava para o dia seguinte. Eu ganhava um dia de Overnight, uma aplicação que rendia diariamente”.

O grande estoque de produtos favoreceu a Tecpro em outra crise econômica. A do Governo Collor e apreensão da poupança. “Nessa época, aprendi a controlar o faturamento em dólar. Faturava um milhão de dólares por mês; não descontava título e comprava à vista.” Ao contrário do que passaram muitas empresas, outra atitude de Collor favoreceu os negócios para o Sr. Wady, pois houve bastante investimento na indústria automotiva que chegava de fora com a abertura do mercado. A Tecpro voltou a crescer. Nessa época, eles haviam comprado a Dixie, agora de forma completa e que foi posteriormente vendida para a Lalekla. Essa negociação fez com que o Wady se tornasse o único dono da Tecpro. “Digo que comprei a Tecpro uma vez e meia, porque quando ela surgiu eu tinha comprado 25%, depois, 75%, quando a comprei dos meus sócios; e quando me separei da primeira esposa, também precisei comprar os outros 50% da minha ex-mulher (rs). Ou seja, comprei a Tecpro 1 vez e meia. Não me arrependo!”

Um dono muitos cansaços

Ele revela que, sozinho, apesar de estar com uma vida financeira estável, foi ficando muito cansado. “Eu chegava 6h30 da manhã e saia às 8 horas da noite”. Refletiu e pensou em três saídas; ele mesmo conta: “1 – Ter sócios: ‘Não queria passar por isso de novo’; 2 – Fechar a empresa: ‘Um custo muito elevado’; 3 – Vender: ‘Fui apresentado para os diretores da Inbra, que havia assumido a Udylite”. O Sr. Wady foi apresentado ao Eng. Paulo Heininger pelo Sr. Roberto Motta de Sillos, logo após a Semana Santa de 1995. Dali, foi um ano de negociação. “Ambos polos eram muito duros para negociar, mas de honestidade ímpar.” A venda foi anunciada no Jornal A Gazeta Mercantil de 9 de janeiro de 1996. A venda impactou os funcionários da Tecpro, mas não da maneira que se pode supor. “Em janeiro chamei todos os funcionários para uma reunião, cerca de 50 funcionários. Comecei a reunião mostrando o artigo da Gazeta Mercantil falando da venda da empresa. Foi um choque! Eles achavam que seria sobre um processo novo, mas nunca uma venda. A Inbra levou meus clientes e produtos, mas não os ativos fixos ou o CNPJ. Informei que eles seriam dispensados naquele mesmo dia, mas que ficassem tranquilos – os novos donos entraram na sala –, pois seriam dispensados hoje e contratados amanhã”. Pelo acordo da venda, o Sr. Wady ficaria um ano trabalhando meio período, auxiliando a transição.

Era o fim de uma era? Não! O Sr. Wady, como empreendedor que é, havia feito uma sociedade em uma empresa de injeção de plástico, a JodyPlast. “Não me dei bem, pois trabalhavam de uma maneira que eu não gostava, digamos, não ‘convencional’.”

Após a venda da JodyPlast ele parou de trabalhar. Tinha uma vida estável, mas “um fogo interno” que não o deixava ficar sem fazer nada. “Um dia encontrei o meu grande amigo, Airi Zanini que me perguntou o que eu estava fazendo; respondi: – ‘Nada’. Aí ele: ‘Nada por nada, vá fazer lá na Anion”. E ele foi. Ficou por alguns anos, auxiliando o Roberto Motta de Sillos, seu grande amigo, na área comercial. Continuou atuando também na ABTS, ministrava aulas, prestava consultorias eventuais, inclusive de informatizar/modernizar empresas do setor.

Cópia do Jornal Gazeta Mercantil de 09 de janeiro de 1996. Venda da Tecpro para a Inbra

“Consideram-me uma pessoa polêmica, mas sou justo. Sou muito politizado”

Conselhos

“Acho que, ainda hoje, o Brasil precisa de um curso técnico. Não precisamos de um monte de engenheiros, precisamos de gente que produza coisa técnica, em informática, química, medicina.”

“Fluxo de caixa é ar, se você não tiver, você morre.”

“Aprenda a dizer não.”

“Goste do que faz, o dinheiro é uma consequência. Se você sai de casa e está infeliz com o trabalho ou com o chefe, ou você troca de trabalho ou troca de chefe.”

“O maior tesouro que alguém pode receber são as amizades cultivadas ao longo da vida, semelhantes às valiosas que tive a sorte de construir”.

O Sr. Wady também foi auxiliar na administração financeira de uma empresa de publicidade. “Topei o desafio. Uma das vantagens de eu ter feito administração de empresas era porque quando alguém perguntava algo de química eu dizia que era administrador; e quando alguém perguntava sobre o dólar, eu falava que era químico (rs)”.

A publicidade ‘mordeu’ o Sr. Wady e ele montou sua própria agência de publicidade, a MondoPubli. “Mudei para o mesmo prédio onde era a ABTS, mas veio a pandemia e não continuamos”.

O Sr. Wady lembra da Gedore, empresa que fabrica ferramentas, para quem também prestou consultoria nesse período. “Local onde fiz grandes amigos”. Foi um caso de sucesso. Em sua chegada tinham rejeição de 50%, ao sair deixou menos de 3%. “Foi um trabalho que me satisfez muito!”, recorda.

Outro trabalho importantíssimo para ele foi o de voluntariado. Atuou junto ao Programa Menor Aprendiz, para instituições religiosas. O trabalho era feito com crianças e adolescentes e o Sr. Wady ministrava as aulas de matemática. “Mas eu falava de tudo. Eu também era muito chato (rs). Foram mais de 300 alunos, me orgulho muito! Tinha uma menina que odiava matemática, hoje ela é contadora (rs). Mesmo sendo considerado chato, até por outros professores, fui escolhido como paraninfo da 1a turma. Realmente foi um trabalho muito gratificante.”

Nessa época foi convidado pelo Sr. Sérgio Pereira para atuar junto aos seus filhos na Tecnorevest/Revestsul, modernizando os seus controles operacionais. Permaneceu durante três anos na empresa, ajudou na implantação da nova sede em Cambé, PR, e também fez muitos amigos nesse período. Ao se desligar, voltou ao seu trabalho voluntário, que tomava menos o seu tempo. Depois de alguns anos, ele voltou a trabalhar com o Airi, atendendo clientes selecionados, foi a mesma situação: “ – ‘O que você está fazendo?’; respondi: – ‘Nada’; e lá fomos nós outra vez, ele trabalhava uma vez por semana na Anion e, duas vezes por semana, dedicava-se ao Núcleo Assistencial Irmão Alfredo (NAIA), onde era encarregado da gestão financeira.

Wady e sua esposa, Vera Lúcia O. Millen.

Wady e seu filho, Marcelo Millen.

Wady e sua enteada, a quem considera como filha de coração, Carolina Fernandes.

Essa é a história do Sr. Wady Millen Junior, esse profissional comprometido, estudioso, polêmico, politizado e, com certeza, engraçado, repleto de histórias inspiradoras e divertidas. Ele casou-se novamente e está muito feliz junto a sua família e seus filhos; diz que hoje parou de vez de trabalhar. Considerando tudo o que leu, você acredita?

Contato: wadymillen@gmail.com

Notícias relacionadas

Este site usa cookies do Google para fornecer serviços e analisar tráfego.Saiba mais.