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A Consistente e Surpreendente Trajetória de José Sobrinho Gianesi


TS 244Grandes ProfissionaisTS online 20 de janeiro de 2025 | Por: Portal TS
A Consistente e Surpreendente Trajetória de José Sobrinho Gianesi

A consistente e surpreendente trajetória de José Sobrinho Gianesi, há mais de 60 anos na indústria de fixadores.

por Ana Carolina Coutinho 

“Idoso faz planos, velho sente saudades”

“Sabe qual a diferença entre velho e idoso?”, pergunta José Gianesi Sobrinho, de 92 anos, que ainda atua na sua empresa, a Nylok Tecnologia em Fixação, e que construiu uma carreira brilhante, dedicada ao setor de tratamentos de superfície, especificamente no segmento de fixadores, área em que atua há mais de 60 anos e onde fundou a sua companhia. A resposta: “Velho sente saudades, idoso faz planos”. Uma filosofia que continua impulsionando sua trajetória. Engenheiro industrial, profissional dedicado, e empreendedor, ele construiu uma história marcada pelo trabalho duro e um olhar otimista para o futuro. Desde a infância humilde na Barra Funda, em São Paulo, até se tornar um dos nomes mais respeitados no setor de fixadores, Gianesi viveu intensamente os desafios e as transformações do Brasil e de sua própria vida.

Da infância humilde a engenheiro de sucesso

Gianesi cresceu em um lar simples, onde o esforço e a educação eram valores fundamentais. “Meu pai era um filho de italiano, de dez irmãos, que veio na imigração italiana, ele era mecânico autônomo. Eu trabalhava das 11h às 19h e ia estudar, no Colegial. Quando chegou na época de vestibular, meu pai me disse: ‘Olha, você quer estudar? Quer fazer engenharia? Eu já tenho o dinheiro para o cursinho. Você para de trabalhar um ano, faz o cursinho, e faz o vestibular. E eu fui’”. O Sr. Gianesi fez FEI – Faculdade de Engenharia Industrial. Naquela época, conheceu a sua esposa, Estela, com quem compartilha a vida até hoje. No mesmo período, foi convocado pelo exército, onde fez CPOR, e também atuou como funcionário público, sendo dispensado pelo próprio Jânio Quadros, pois os colegas o elegeram para interceder junto ao prefeito, o Jânio. Essa foi sua primeira experiência como líder e com política, mas, ao fim da graduação, outra surpresa.

“Nós estávamos interessados em promover a FEI. E resolvi convidar o presidente da república para ir lá como paraninfo. Era O Juscelino Kubitschek, na época do plano de ‘Crescer 50 anos em cinco’. E eu e o Leó Trindade, membros da comissão de formatura, fomos para a capital. Como não tínhamos dinheiro, fomos de avião Força Aérea. E ele nos atendeu! Eu disse: ‘Mas o senhor precisa ir, hein? E ele: ‘Eu vou’”. E veio mesmo, após uma intervenção de todos os alunos, cerca de 100, que alugaram um ônibus e foram reforçar o pedido. “Foi interessante porque o protocolo dizia que se o presidente estivesse, também precisava estar o governador, Jânio Quadros, e o prefeito, Adhemar de Barros. Meu Deus, foi um acontecimento! Todos os três políticos, um contrário ao outro. Foi maravilhoso!”, enfatiza.

Primeira atuação como engenheiro

Ao se formar, e prestes a casar, conta que fez 19 entrevistas de emprego. Ele queria a Ford, mas foi chamado pela General Motors. “A GM não fazia automóveis, fazia geladeira, frigideira, montava caminhões e importava automóveis. E foi espetacular; entrei na ferramentaria”, conta. Pouco antes havia estado na MAPRI, uma empresa fundada por alemães, “dois cunhados e um irmão”. Ao ser entrevistado, olharam o sobrenome e perguntaram-lhe de quem ele era filho. O pai do Sr. Gianesi, Sr. Frederico, prestava serviço de mecânico para a empresa. “Disseram-me: está contratado! Não aceitei, mesmo eles me oferecendo um ótimo salário, mas era muito pequeno. Pedi uma semana para pensar e fui aprovado na GM”. O Sr. Gianesi tem muito carinho pelo único ano que atuou lá, por trabalhar na ferramentaria. “A MAPRI foi me buscar.”

O rigor alemão

“Ligaram-me e disseram: ‘Gianesi, você pode vir para cá? O nosso engenheiro alemão chegou e estamos precisando de um engenheiro brasileiro”. Também lhe ofereceram um salário tentador, quase o dobro do que ganhava na GM, e a fábrica já era grande. Esse foi o início de sua carreira no mercado de fixadores, na MAPRI, sob a orientação de um engenheiro alemão rígido, mas extremamente habilidoso. “Ele me ensinou que parafusos são como amigos: só se sabe que são bons na hora do aperto,” recorda. O engenheiro alemão ficou 5 anos na empresa. “Ele era louco. Lutou na guerra; pilotava aqueles submarinos individuais que saíam do navio-mãe; foi prisioneiro na Rússia, onde trabalhou em mina de carvão. A família pensou que ele tivesse morrido”, conta. Ao ir embora, queria levar o Sr. Gianesi junto. “Só não fui para a Alemanha por causa da minha família, pelo meu pai e minha mãe”.

A maior realização

“Eu me especializei em tratar com a indústria automobilística, e minha maior realização foi nacionalizar os parafusos que antes eram importados para motores”, destaca. A oportunidade surgiu quando a General Motors enviou ao Brasil o consultor americano Mr. Hazard, um especialista em parafusos. Ele era responsável por ajudar na nacionalização desses componentes e escolheu a MAPRI como fornecedora. Gianesi tornou-se o contato direto com a GM. “Recebíamos os desenhos e fazíamos as amostras. O primeiro trabalho foi para os parafusos de cabeçote. Por já ter trabalhado na GM, eu tinha um acesso direto aos engenheiros e até ao dinamômetro, onde os testes eram feitos.”

Apesar de seguir os desenhos à risca, Gianesi enfrentou um momento desafiador quando Mr. Hazard reprovou uma das amostras de parafusos. “Ele me perguntou quantos anos eu tinha. Eu respondi 29. Ele disse: ‘Eu tenho mais do que isso só de experiência em motores, e eu digo que não serve.’ Saí de lá destruído.” Mas o episódio tomou um rumo inesperado quando Hazard, reconhecendo o potencial de Gianesi, pediu que ele acompanhasse os testes na GM duas vezes por semana. “Aprendi como o parafuso deve trabalhar dentro do regime de elasticidade, resistir sem escoar e voltar ao estado inicial.”

O ápice dessa parceria foi o desenvolvimento de parafusos de biela, que exigiam extrema precisão devido às forças exercidas nos motores. Gianesi identificou que o problema residia na altura da cabeça do parafuso. “Eu sugeri aumentar a altura em três décimos de milímetro. Hazard me perguntou se eu tinha certeza. Eu disse que sim, mas pedi que ele mudasse o desenho para evitar reprovações futuras. Ele concordou.”

Para aprofundar a pesquisa, Gianesi viajou aos Estados Unidos como assistente de Hazard, analisando os padrões internacionais de fabricação. “Percebi que o problema também acontecia lá. Fizemos ajustes e, no final, conseguimos aprovar o parafuso.” Essa experiência não apenas consolidou sua relação com a General Motors, mas também marcou um avanço técnico significativo para a MAPRI e para a indústria automobilística brasileira.

“Pode parecer uma realização pequena para quem não conhece, mas foi gigante para mim”, conclui Gianesi.

A venda da MAPRI

Em meio àquela relação complicada com o diretor industrial, Gianesi viu-se em uma posição limitada, sem poder de decisão. “Eu só tinha autoridade de apoio, ele me tratava bem, mas tratava o pessoal muito mal,” relembra. A MAPRI foi vendida à US Steel e todos enfrentaram inúmeras pressões, inclusive e de faturar 10 vezes mais do que o usual, “senão a empresa seria pequena demais para eles”. Também houve a tentativa de promovê-lo a diretor comercial, cargo que ele recusou. “Eu não sou vendedor, sou engenheiro, conheço a fábrica. O posto que eu quero é o de diretor industrial quando o atual for promovido,” afirmou – na época ele era gerente.

Eventualmente, Gianesi assumiu o cargo de diretor de vendas, mas as mudanças na administração culminaram na saída do então diretor industrial. “Levei-o até a Mercedes dele e, naquela noite, ele me chamou à sua casa. Ele me ofereceu sociedade em uma nova empresa que havia comprado, mas recusei. Sabia que meu lugar ainda era na MAPRI.”

Foram 30 anos de atuação na MAPRI, onde chegou a vice-presidente executivo, até a fundação de sua própria empresa.

A NYLOK Tecnologia em Fixação

A US Steel vendeu a MAPRI para a Belga Mineira e, assim, o Sr. Gianesi deixou a empresa; “Pedi a conta; fizemos um acordo, era oito de agosto de 1986”. Ele acrescenta: “Saí sem emprego. Eu me habilitei no mercado e você, como engenheiro, entra na vala comum. Eu não era mais engenheiro, eu só entendia de parafusos; só teria valor trabalhando em parafusos”, enfatiza. De qualquer forma, aceitou um cargo para fazer a intermediação com a GM, era na Torque onde ficou por três anos. De lá, passou à Sabó “onde fiquei quase três anos”. Antes disso, ele já tinha conhecido as travas químicas e mecânicas para fixadores nos Estados Unidos. Incluindo a tecnologia produzida pela Nylok, uma companhia que atua globalmente.

Naquela ocasião houve a tentativa da MAPRI em trazer a tecnologia para o Brasil, mas a licença foi negada. Ocorre que, pouco tempo depois, já na Sabó, em uma viagem junto do presidente da empresa a Chicago, EUA, foi convidado para jantar pelo vice-presidente da Nylok, que lhe disse: “Agora você não é mais MAPRI e nós precisamos, queremos, dar uma licença para você, independente do que eu disse anteriormente”. O Sr. Gianesi respondeu: “Olha, eu não tenho dinheiro, estou com 63 anos e estou trabalhando, quer dizer, não tenho interesse e não tenho capacidade, mas se você puser dinheiro eu faço!”. Eles não puseram dinheiro, mas o Sr. Gianesi decidiu dar um passo ousado: fundar, então, a sua própria empresa.

Com a ajuda dos sobrinhos, Nilo e Rosano, atual presidente da Nylok Tecnologia em Fixação, eles fizeram um projeto e buscaram o apoio financeiro de um primo, que é sócio – junto com o Sr. Gianesi e o Rosano. “Eu precisava de 500 mil dólares para começar, mas só tinha um projeto sólido e a confiança nos meus sobrinhos”, relembra Gianesi. Posteriormente, Nilo foi para o Canadá, onde também fundou a Nylok naquele país.

Rapidamente, a Nylok conquistou o mercado brasileiro ao introduzir tecnologias pioneiras e elevar os padrões de qualidade no setor. Gianesi destaca que o início foi desafiador, mas acredita no poder da coragem e da dedicação: “Foi desafiador, mas aprendi que, com coragem e dedicação, podemos transformar ideias em realidade.” Além da trava mecânica, a Nylok também adquiriu expertise na aplicação de travas químicas, incorporando em sua linha de produtos a tecnologia da Loctite. Passou ainda a ser distribuidora da empresa TECNOLOGIC 3®, de vedantes, e também dos produtos OminiTechnik Mikroverkapselungs GmbH, tornando-se referência em sistemas de travamento no Brasil.

A importância da família

Hoje a empresa é comandada pela família; além de Rosano Gianesi, diretor comercial, o filho do Sr. Gianesi, Marcelo Gianesi, CEO, e seu neto, André Gianesi Araújo, diretor industrial, o único engenheiro, também formado pela FEI. “Os três com capacidade diferentes, e muito bons; eu não faço nada”, diverte-se. Importante salientar que o Sr. Gianesi ainda atua na FEI, como diretor da Fundação.

Casado com Maria Estela Gianesi há mais de 60 anos, Gianesi sempre destacou o papel essencial da esposa, não apenas na manutenção da família, mas também como sua maior incentivadora ao longo da vida. Enquanto ele desbravava o mercado industrial e enfrentava os altos e baixos de uma carreira exigente, Maria Estela cuidava da base familiar, garantindo estabilidade e suporte emocional. “Ela sempre esteve ao meu lado, cuidando da família e me incentivando a seguir em frente”, reflete.

Juntos, enfrentaram desafios pessoais significativos, incluindo uma delicada cirurgia pela qual ele passou. Além disso, Maria Estela desempenhou um papel ativo na integração familiar, promovendo valores que hoje são refletidos na união e no sucesso da nova geração que comanda a Nylok.

O Sr. Gianesi foi Rotariano, Sócio Emérito, Diretor da Fundação Educacional Inaciana Padre Sabóia de Medeiros (FEI) e presidente do Sinpa - Sindicato da Indústria de Parafusos, Porcas, Rebites e Similares no estado de São Paulo. Hoje, se considera mais um mentor do que um executivo. “Meu trabalho agora é ouvir e concordar com o que eles estão fazendo, é não atrapalhar. Já fiz minha parte.” Ele destaca que o maior legado não são os produtos, mas as pessoas que formou e as histórias que viveu.

Com uma trajetória que une trabalho, família e inovação, José Gianesi Sobrinho prova que o tempo não é um limite, mas um aliado. “A vida é um aprendizado constante, e o segredo é nunca deixar de fazer planos. Afinal, é isso que nos mantém jovens”, conclui, mostrando que a experiência e a visão de futuro são os verdadeiros pilares de uma trajetória extraordinária.

Futuro do setor

“O nosso negócio depende da indústria automobilística. Com a mudança do setor, vamos dizer, para 100% elétrico, vai diminuir, impactar na produção; mas não vai deixar de ter parafusos, né? Mas os parafusos de motor são os mais caros e o mercado de fixadores é um dos mercados que vão ser consequentemente atingidos. Por outro lado, você tem a construção civil que está crescendo, a energia solar, eólica. Então vai ser substituído. A Nylok precisa se adaptar ao mercado; por isso temos a gestão estratégica, para nos adaptarmos a essas mudanças.”

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